segunda-feira, 14 de março de 2011

à rasca, II

O que aquela gente que se foi manifestar - e com toda a legitimidade - não percebeu, é que o protesto de um é antagónico do protesto do outro. Vi funcionários públicos desfilarem ao lado de «precários» que contestam o carácter «vitalício» da condição daqueles. Vi uma classe média que protestava contra os impostos, que irão pagar os vencimentos de alguns dos elementos dessa mesma classe média. Vi «artistas» a exigirem subsídios a serem pagos pelos «pequeno-burgueses» que ao seu lado caminhavam e protestavam. Vi professores a protestar - e com toda a legitimidade - contra o seu absurdo sistema de avaliação, ao lado de desempregados que não podem sequer fazer ideia que se possa protestar por uma coisa dessas. Vi anarcas, bloquistas, comunistas, nazi-fascistas, jotinhas diversos, reformados, pais de «precários» (que, muitos deles, nunca procuraram emprego nenhum), alguma vagabundagem. Une toda este gente um justificável ódio a José Sócrates. Convenhamos que, para programa político, é pouco. O day after é nada: a Revolução não é possível, nem desejada pela maior parte dos manifestantes. O passo seguinte é o passo habitual do nosso Rotativismo atávico.