sexta-feira, 9 de julho de 2010

Simplex


A propósito do recente e já tradicional despacho de organização do ano lectivo. Muitas vezes tem de ser o próprio Estado a dizer aos seus "repetidores" - mais papistas do que o próprio Papa - o óbvio:

"6.º -A
Redução das tarefas administrativas

1 — A marcação e realização das reuniões previstas no n.º 2 do artigo 2.º do presente despacho e da alínea c) do n.º 3 do artigo 82.º do ECD deve, para o reforço da sua eficácia, eficiência e garantia do necessário tempo para o trabalho dos docentes a nível individual, ser precedida:
a) Da ponderação da efectiva necessidade da sua realização e da possibilidade de atingir os mesmos objectivos através de outros meios, desde que não se trate de matérias que careçam legalmente de deliberação do órgão em causa;
b) De uma planificação prévia da reunião, estabelecendo as horas de início e do fim e com ordens de trabalho exequíveis dentro desse período;
c) Da atribuição aos seus membros trabalho que possa ser previamente realizado e que permita agilizar o funcionamento dessas reuniões;
d) Do estabelecimento de um sistema de rigoroso controlo na gestão do tempo de forma a cumprir a planificação.
2 — Os órgãos dos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas, e bem assim as respectivas estruturas de coordenação educativa e supervisão pedagógica, devem:
a) Evitar a exigência ao pessoal docente de documentos que não estejam legal ou regulamentarmente previstos;
b) Contribuir para que os documentos exigidos aos docentes ou produzidos na escola tenham uma extensão o mais reduzida possível;
c) Assegurar que a escola só se envolve em projectos que se articulem com o respectivo projecto educativo.»

Espero que se continue a mudar as rotinas nas escolas portuguesas.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Teresa Silva Carvalho

Cinco canções na voz da grande cantora, fadista e compositora Teresa Silva Carvalho - e lindíssima mulher -, infelizmente retirada e pouco recordada:

Barca bela, de Teresa Silva Cravalho com versos de Almeida Garrett
Litania para um Amor ausente, de Vitorino com versos de Luís Pignatelli
Mas que fresca mondadeira, de Vitorino








Recordarei sempre, da sua autoria Canção Grata - uma das melhores canções de sempre da música portuguesa - e Amar (embora um dos meus ódios de estimação seja Florbela Espanca). E, claro, Ó rama, ó que linda rama, com arranjos de Vitorino e Verdes São os Campos, de José Afonso com versos de Luís de Camões.

Ignomínias

Estes eram os juramentos impostos aos «servidores do Estado» no acto de posse. A primeira, constante da Lei n.º 1901, de 21 de Maio de 1935 - que só veio a ser expressamente revogada em 1975 - suscitou um famoso opúsculo de Fernando Pessoa: «As associações secretas». A segunda, constava do Decreto-Lei n.º 27003, de 14 de Setembro de 1936 e, por isso, ficou conhecido como a «declaração 27003». Ambas as declarações foram abolidas em 1969. O decreto que as abolia foi publicado no mesmo número do Diário do Governo que extinguia a PIDE e criava a Direcção-Geral de Segurança!
Há aquele dito sobre as moscas e a merda...

Muitos dos nossos melhores foram expulsos (aposentados ou demitidos) das nossas escolas e universidades por se terem recusado a prestar tal declaração ou por revelarem "espírito de oposição aos princípios fundamentais da Constituição Política ou não dêem garantias de cooperar na realização dos fins superiores do Estado": Agostinho da Silva,  Abel Salazar, Aurélio Quintanilha, Manuel Rodrigues Lapa, Sílvio Lima, Ruy Luís Gomes, Mário Silva, Celestino da Costa, Pulido Valente, Fernando Fonseca, Crabée Rocha, Aniceto Monteiro, Manuel Valadares e tantos outros. Não os podemos - porque não devemos - esquecer.

Os sinais dos tempos, I

Dei aulas durante 18 anos e um espectáculo recorrente, digamos que dos últimos 5 anos, era a pressa com que nas férias da Páscoa os meus alunos do 12.º ano iam tirar a carta. Razão? Porque não concebiam ir para a Universidade em transporte público. No meu tempo, na Cidade Universitária encontravam-se estacionados meia dúzia de carros, na melhor das hipóteses, dos senhores professores. Em poucos anos, tudo mudou. Mesmo o alargamento da rede do Metropolitano de Lisboa, a introdução do comboio na ponte 25 de Abril e a melhoria das embarcações da Transtejo, não incentivarem o uso do transporte público por parte dos jovens - que, por definição, não têm rendimentos do trabalho. Das outras regiões não sou competente para falar, mas parece-me ter havido um desinvestimento nas acessibilidades das linhas de Cascais e Sintra, bem como do Oeste.
Uma geração cujos bisavós andavam a pé ou de burro, os avós começaram pelos Mini, Renault 4 e Fiat 127 e os pais pelos Renault 5 e pelos Panda, inunda Lisboa de automóveis (presumo que nos outros pólos universitários se passe o mesmo), gasta o que não tem e o que não deve e concorre para o risco ambiental já elevadíssimo. Mesmo os meus alunos de Almada que ingressavam na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova, no Monte de Caparica, não dispensava o "pópó". Vai ser giro ver esta gente apeada nos anos vindouros.

Diz acertadamennte o Eduardo Pitta: "Num país atrasado como Portugal, a cultura do automóvel subverteu o interesse colectivo. Em 1986, com a entrada na CEE, actual União, centenas de milhares de famílias deram o salto da carroça para o Fiat 127. Não teria mal se, em simultâneo, os sucessivos governos, autarcas de todas as cores e poderes fáticos não tivessem aproveitado o upgrade de motorização para encerrar linhas de caminho de ferro e reduzir drasticamente a rede de carreiras rodoviárias."

Chapeau!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Saramago na Playboy


(Com a devida vénia ao Cadeirão Voltaire)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Descobertas


Um grande sítio: Classica Digitalia

*

Uma grande iniciativa de Pedro Almeida Vieira: uma base de dados do romance histórico português.

George Harrison - Here Comes The Sun, de George Harrison (The Beatles, Abbey Road - 1969)



A propósito do calor de ananases

A criança, a avó, as tias, o pai dela e a russa namorada dele



Rica criança que rica ficará

Pobre criança que crescerá entre tal gente

(Mais valia deixá-lo aos cuidados de Marge Simpson)

domingo, 4 de julho de 2010

Eça de Queirós - Correspondência de Fradique Mendes

Hoje, que está tanto calor - «um calor de ananases» - relembro o Eça:

"Pela escada, o poeta das LAPIDÁRIAS aludiu ao tórrido calor de Agosto. E eu que nesse instante, defronte do espelho no patamar, revistava, com um olhar furtivo, a linha da minha sobrecasaca e a frescura da minha rosa--deixei estouvadamente escapar esta coisa hedionda:
- Sim, está de escachar!
E ainda o torpe som não morrera, já uma aflição me lacerava, por esta «chulice» de esquina de tabacaria, assim atabalhoadamente lançada como um pingo de sebo sobre o supremo artista das LAPIDÁRIAS. O homem que conversara com Hugo à beira-mar!... Entrei no quarto atordoado, com bagas de suor na face. E debalde rebuscava desesperadamente uma outra frase sobre o calor, bem trabalhada, toda cintilante e nova! Nada! Só me acudiam sordidezes paralelas, em calão teimoso: - «é de rachar»! «está de ananases»! «derrete os untos»!... Atravessei ali uma dessas angústias atrozes e grotescas, que, aos vinte anos, quando se começa a vida e a literatura, vincam a alma - e jamais esquecem."

(da 1.ª ed. (1900), exemplar da Biblioteca Nacional)

The Beatles - A Hard Day's Night (1964)