sexta-feira, 12 de março de 2010

Maria Helena da Rocha Pereira, II

Pacheco Pereira presta, hoje, na Sábado, uma significativa homenagem a Maria Helena da Rocha Pereira:

"A Senhora, que uma vez disse que vivia com os gregos, os antigos, é frágil como uma pena. Quase que não se vê no meio das pessoas, mas sabe-se que ela lá está. Vai-se lá por causa dela, haja chuva, trovões, tempestades, coisa que ela conhece certamente bem dos poemas antigos que, como ninguém, estudou em Portugal. Dentro dela estão as grandes tempestades homéricas, mas também as palavras de Píndaro, de Anacreonte, a sabedoria de Sólon, a prosa esplêndida de Platão. Fala baixo o que impõe o silêncio absoluto que tão raro é. E descreve a Grécia arcaica com a familiaridade de quem viveu sempre lá. Ocasionalmente fala em grego, porque, para o que quer dizer, essas são as palavras precisas. E não precisa de falar muito para dizer muito. Diz com ironia, para comentar Esparta na sua decadência, que havia pelo menos uma qualidade que tinham mantido: os espartanos falavam sempre pouco.
A Senhora, Maria Helena da Rocha Pereira, ganhou mais um prémio. Se houvesse uns Jogos Olímpicos na categoria do saber, Píndaro escreveria sobre ela."

Bravos e olés!


Eu já gostava de Gabriela Canavilhas. Para além de ser uma mulher muito bonita e com incomparável panache, é uma excelente pianista e uma grande dirigente. Salvou o Museu de Arte Popular da demolição que a desastrosa Pires de Lima havia decidido e teve a coragem de dignificar essa arte maior que é a Festa Brava ao criar a Secção de Tauromaquia no âmbito do Conselho Nacional de Cultura. E teve, sobretudo, a coragem de enfrentar o politicamente correcto das posições dos «amigos dos animais» (há uma estranha parecença entre estes e os «movimentos pela Vida»). Os sinistros Moutinhos e Sampaios que se preocupem com os cãezinhos metidos em apartamentos e com os seres humanos que têm que os aturar.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Mozart - Eine kleine Nachmusik, K. 525

Precedentes

O Presidente da República relembrou ontem, e bem, que não pode demitir o Governo «por falta de confiança política». Haverá quem pense que existe o precedente Sampaio. Mas a verdade é que não existe nenhum precedente Sampaio. O Governo de Santana Lopes não foi demitido. O Presidente Jorge Sampaio - aliás de acordo com o seu pensamento, expresso em diversos pronunciamentos, embora altamente discutível - dissolveu a Assembleia da República por entender que a maioria nela contida já não correspondia à expressão da vontade popular. Como aliás se veio a confirmar na eleição imediata, em que a coligação governamental averbou uma pesada derrota; resultado contrário poderia ter levado à renúncia do Chefe de Estado. O Governo foi automaticamente demitido por efeito do início da nova legislatura (artigo 195.º, n.º 1, alínea a) da Constituição) e não directamente. Há coisas que vale a pena relembrar porque andam muito esquecidas.
De facto, o Presidente da República só pode demitir o Governo  «quando tal se torne necessário para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado» (ibidem, n.º 2). Ora acontece que Sampaio não demitiu o Governo, antes dissolveu a Assembleia da República, o que é um poder que o Presidente pode exercer livremente - dentro de certos limites temporais, apenas - , ouvido o Conselho de Estado. E também convém lembrar que este órgão se mostrou, por maioria, favorável à dissolução do Parlamento. Quem falou em «golpe de Estado constitucional» ou está de má-fé ou não sabe do que fala.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Barbra Streisand - Cry me a river / Julie London - Cry me a river



«La Streisand», provavelmente a maior cantora viva, aqui em grande desprendimento, em contraponto à interpretação clássica de Ella Fitzgerald e de Julie London


Quem me dera voltar a ouvir Cry me a river pela enorme Leny Andrade, a melhor versão que ouvi até hoje e que ainda não consegui encontrar na Rede. As modernas interpretações de Diana Krall ou Michael Buble são meras citações.

Pinocadas


É estranho que os Deputados estejam preocupados que o Primeiro-Ministro minta ao Parlamento mas nunca se preocuparam que o Primeiro-Ministro tivesse mentido ao País. Porque não houve comissão de inquérito aos títulos académicos, ao caso Freeport - agora que ele saiu da alçada judicial - e a tantas outras coisas? Telhados de vidro?

[desenho de Pinocchio de Enrico Mazzanti para a edição original de Pinnocchio de Carlo Collodi]

segunda-feira, 8 de março de 2010

Maria Helena da Rocha Pereira



Neste Dia Internacional da Mulher - que continua a ter toda a pertinência, ao contrário do que por aí se diz - e coincidindo com o facto de lher ter sido, hoje, atribuído o prémio Vida Literária (APE/CGD), presto homenagem a um dos maiores intelectuais portugueses, a Professora Maria Helena da Rocha Pereira. O pouco que sei da cultura clássica devo-o à leitura dos seus decisivos Estudos de História da Cultura Clássica (2 vols., I. Cultura Grega; II. Cultura Romana) e às traduções coligidas em Hélade. Antologia da Cultura Grega e Romana. Antologia da Cultura Romana. Nunca consegui ler a sua tese de doutoramento Concepções Helénicas de Felicidade no Além, de Homero a Platão, que me teria sido muito útil para um melhor entendimento do Fédon. As suas traduções da Antígona de Sófocles e da República de Platão constituem monumentos da língua portuguesa, naquele sentido de que falava Wittgenstein, ao aproximar tradução e criação literárias.

Grande entrevista ao Expresso, aqui

Atribuído o Óscar honorário a Lauren Bacall - muito mais do que apenas Bogie



Óscar honorário para Lauren Bacall

(ver o post anterior sobre a Bacall, aquando do anúncio do Óscar)