quarta-feira, 9 de junho de 2010

Registos Centrais

O meu livro da 2.ª classe no Museu Virtual da Educação (actualizando este post já antigo).

Para a História da Educação em Portugal, II


O Decreto-Lei n.º 27 279, de 24 de Novembro de 1936 é todo um programa: a ideia de que "o ensino primário elementar trairia a sua missão se continuasse a sobrepor um estéril enciclopedismo racionalista, fatal para a saúde moral e física da criança, ao ideal prático e cristão de ensinar bem a ler, escrever, contar, e a exercer as virtudes morais de um vivo amor a Portugal"; a desvalorização do diploma de professor "tantas vezes só decorativo", o elogio do posto escolar "escola aconchegada da terra pequenina, onde outra maior se tornaria desproporcionada, ao mesmo tempo que, pelo desperdício, inimiga da restante terra portuguesa"; a instrumentalização dos inspectores escolares.

António Manuel Couto Viana (1923-2010) e os escritores conservadores

Morreu há uns dias aquele que era, provavelmente, o último sobrevivente da geração da Távola Redonda (David Mourão-Ferreira, Fernanda Botelho, Alberto de Lacerda, entre outros). Este poema - tardio - representa todo o programa de vida de Couto Viana:

"O poeta e o mundo

Podem pedir-me, em vão,
Poemas sociais,
Amor de irmão p'ra irmão
E outras coisas mais:

Falo de mim - só falo
Daquilo que conheço.
O resto... calo

E esqueço."

(Uma vez uma voz, 1985)

P.S.: Eduardo Pitta presta-lhe, também hoje, homenagem.

*

Não é, propriamente, o caso de Couto Viana, mas há alguns escritores de tradição conservadora que me interessam (para além, obviamente, de Agustina Bessa-Luís).
O primeiro é Joaquim Paço d'Arcos, de quem tenho lido umas magníficas short stories (Neve sobre o MarO Navio dos Mortos e Outras Novelas e Carnaval e Outros Contos, etc.) e de quem espero ler o ciclo de seis romances de «Crónica da Vida Lisboeta» e a Cela 27. Em miúdo tinha lido as Memórias duma Nota de Banco. O Autor - outrora muito lido e responsável por haver tantas «Anas Paulas» - tinha mau nome, em parte justificado pelo seu apoio à intervenção da Legião Portuguesa na Sociedade Portuguesa de Escritores e à posterior extinção da mesma, consubstanciado num célebre panfleto. Sei que Paço d'Arcos tinha boa relação com escritores da Oposição - possuo um exemplar de Nus e Suplicantes de Urbano Tavares Rodrigues, em que um dos contos lhe é dedicado, dedicatória essa que é retirada em ulteriores reedições. Sei também - e devo-o a uma conferência de Eduardo Lourenço - que o encostar de Paço d'Arcos à extrema-direita do Regime assentou, em grande parte, num equívoco. Aliás, para além do célebre cosmopolitismo do Autor e do português enxuto é, por exemplo, o erotismo da sua escrita e das suas imagens o que mais o faz estranhar nessa tradição conservadora. Um pouco como Pedro Homem de Mello, embora num registo inverso.
Outros casos são Luís Forjaz Trigueiros - excelente contista -, Tomaz de Figueiredo - cujo vernaculismo é, para mim, um obstáculo como o são Aquilino Ribeiro e João de Araújo Correia -, o escritor católico Francisco Costa, bem como a romancista e ensaísta Esther de Lemos, ainda viva.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Passagens Canónicas, IV - O Conde d'Abranhos, de Eça de Queirós

"O ministério Cardoso Torres, ao fim da última sessão parlamentar, estava gasto. Esta expressão a que eu chamaria, se me não contivesse o respeito, a «gíria constitucional», refere-se a um fenómeno venerável e repetido, que eu nunca compreendi bem, apesar das explicações benévolas que me foram dadas por conservadores, republicanos e cépticos.
Há ministérios que se gastam. E todavia, esses ministérios, como os outros, administram o tesouro com honestidade, fazem o expediente das secretarias com suficiente regularidade, mantêm no país uma ordem benéfica, não oprimem nem a imprensa nem a consciência, são respeitosos para com o Chefe de Estado, acompanham com dignidade, ao Alto de S. João, todos os defuntos ilustres, falam nas Câmaras com honrosa correcção, são na vida privada cidadãos estimáveis, e no entanto – ao fim de alguns meses desta rotina honesta, pacata e higiénica – gastam-se.
Gastam-se porquê? Compreende-se que um ministério que luta com dificuldades, que se coloca ao través da opinião pública, se gaste, como ao través de um frágil estacado que uma corrente hostil incessantemente bate. Compreende-se ainda que um governo criado especialmente para resolver certas questões sociais ou políticas, se torne desnecessário, desde que as tenha resolvido, e fique como o zângão que fecundou a abelha e é daí em diante um inútil.
Mas quando se não dá nenhuma destas hipóteses, quando os ministros não foram trazidos do seio da sua família para resolver questões sociais, – ou porque as não haja, ou porque seja um princípio tacitamente estabelecido deixá-las sem resolução – quando, em lugar de se esforçarem contra a larga corrente da opinião, os ministros lhe bolam regaladamente no dorso, não compreendo como um ministério se possa gastar.
Um dia pedi respeitosamente ao Conde d'Abranhos a explicação da palavra e do fenómeno, e S. Exª, o que raras vezes sucedia, deu uma resposta vaga, tortuosa, reticente:
– É uma coisa que se sente no ar. É um não sei quê... Sente-se que a situação está gasta...
Não me permitiu o respeito que insistisse, mas, no fundo do meu entendimento, guardo um secreto terror por este fenómeno incompreensível!
O ministério Cardoso Torres estava portanto gasto. Calculava-se que ele pudesse talvez sobreviver durante grande parte da próxima sessão, mas, para o fim de Abril, devia desaparecer subitamente, como tinham desaparecido os Bexigosos e a corveta Saragoça!"

(Imagem retirada, com a devida vénia, da Colóquio/Letras, n.º 73 - Maio de 1983)

Lá vem o disparate, 2

Lá vem mais um 10 de Junho e lá vem mais um rol de condecorações pátrias. Nunca percebi porque é que tanto militar arrebanha condecoração, a maior parte dos casos apenas porque se chegou a oficial superior ou general. A tão falada banalização das agraciações mantém a incólume tradição de premiar banalidades. António Sala? Fernando Alves? Rosa Lobato Faria (atribuição póstuma a uma vulgaríssima escritora)? Eunice Muñoz, pela terceira vez? Uma pesquisa nas bases de dados da Chancelaria das Ordens Honoríficas Portuguesas permite ter noção do desvario.

Justíssima a atribuição, a título póstumo, a José Luís Saldanha Sanches da Ordem da Liberdade. Nunca tantos deveram tanto a tão poucos.

MP


Será que amanhã, em Aveiro, também haverá saudações romanas?

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Tom Jones - What's New Pussycat?



70 anos feitos hoje, grande Tom Jones!

Lá vem o disparate, 1


Porra!

Licença Graciosa

Pedro Sales certeiro, sobre as «férias de Estado» de Cavaco na Capadócia.

Ao mesmo tempo, o Ministro da Economia, Vieira da Silva, perdeu uma boa oportunidade de estar calado. Isto de um Ministro vir a correr tecer comentários ao que diz o Chefe de Estado chega a ser ridículo.

O problema não é os portugueses passarem férias no estrangeiro. Antigamente - "antigamente, sim", dizia a Agustina - ia-se de férias a Paris, a Londres, ver a Civilização. O problema é que os portugueses trocaram o Algarve da sua transumância por lugares chamados Punta Cana, Porto Galinhas e quejandos.