sexta-feira, 16 de abril de 2010

O Sr. Duarte de Bragança

O descendente de D. Miguel e pretendente ao trono virtual de Portugal de acordo com o suposto «pacto de Dover» - cuja existência deve ser tão verdadeira como as invenções de Frei Bernardo de Brito sobre D. Afonso Henriques - veio lamentar que se gaste tanto dinheiro com as comemorações do centenário da República, as quais classifica de «propaganda republicana primária». Tem direito à opinião!
Depois, vem dizer que as presidências da República saem mais caras do que as Casas Reais. Duvido, mas mesmo que seja assim há uma pequenina diferença: a legitimidade que deriva da origem democrática do poder conferido ao Chefe de Estado num regime republicano. E o exemplo de Espanha não colhe: D. Juan Carlos, por mais críticas que se lhe possa fazer - "No queremos monarquia! Ni Juan Carlos Ni Sofia!" - é um rei quase-democrático. Uma coisa que os monárquicos tendem a esquecer é que - e digo-o de forma chocante - a República não tem de se justificar. A Monarquia, tendo instituições em tudo republicanas excepto a chefia do Estado, tem de o fazer. E um referendo não resolve a questão porque apenas pode "legitimar" o primeiro Rei. É aliás esse o problema que o Príncipe das Astúrias e a sua sucessora ou sucessor irão ter.
Só nos faltava, agora, andarmos com os Bragança ao colo.
Só nos saem é «duques»!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A amizade segundo Montaigne

"Au demeurant, ce que nous appellons ordinairement amis et amitiez, ce ne sont qu'accoinctances et familiaritez nouées par quelque occasion ou commodité, par le moyen de laquelle nos ames s'entretiennent. En l'amitié dequoy je parle, elles se meslent et confondent l'une en l'autre, d'un melange si universel, qu'elles effacent et ne retrouvent plus la couture qui les a jointes. Si on me presse de dire pourquoy je l'aymois, je sens que cela ne se peut exprimer, qu'en respondant: Par ce que c'estoit luy; par ce que c'estoit moy. Il y a, au delà de tout mon discours, et de ce que j'en puis dire particulierement, ne sçay quelle force inexplicable et fatale, mediatrice de cette union."

Michel de Montaigne, Essais, I - De l'amitié

(ortografia da época)

Equador

Muito importante a decisão do Tribunal Cível de Lisboa, ao condenar quem tinha acusado Miguel Sousa Tavares de plágio (Equador) socorrendo-se de referências a um blogue anónimo onde tais acusações foram proferidas.

Talvez se comece a perceber que A Rede não pode ser o esgoto para onde se destila o ódio, a injúria, o inuendo e que os órgãos de comunicação social não podem, sem mais, ser o eco dessa imundície.

Haja quem não desista - gente corajosa como o Miguel Sousa Tavares.

P.S.: Não li o Equador.

Querida Europa

Pacheco Pereira, hoje na Sábado em linha:

"Este retorno àquilo que os europeístas chamam de “egoísmo nacional” é algo de mais que normal numa Europa que é o fruto de um entendimento entre nações que ainda são soberanas (pelo menos a Alemanha ainda é), e que os fundadores da Europa conheciam bem e tinham em conta. Os seus sucessores, os des-fundadores da Europa, esses acham que basta a retórica europeísta, misturada com um certo chauvinismo gaulês anti-americano, para obrigar os outros a pagarem.

Acabado o ciclo em que a Alemanha ainda tinha que pagar reparações de guerra disfarçadas de “contribuições líquidas para a União”, havia que encontrar outras soluções e elas existiam, mais prudentes, mais modestas, mas mais sólidas. Mas esse não foi o caminho seguido pelos signatários impantes do Tratado de Lisboa e o resultado é que a crise grega arrastou-se sem glória europeia e sem solução. Os alemães ainda vão pagar, mas todos compreendem que a Europa não está a funcionar, e se tivermos em conta as proclamações hiper-optimistas à volta do Tratado, então não está a funcionar de todo."

Jaime Salazar Sampaio (1925-2010)

Poeta e dramaturgo, lembro-me de ter visto uma peça sua - Fernando (talvez) Pessoa - há muitos anos (1983), no Teatro Nacional D. Maria II, com encenação de Artur Ramos e interpretação de Varela Silva, Curado Ribeiro e Rogério Paulo (recordo até que este se enganou). A peça não era grande coisa, mas acho que foi a minha primeira notícia da existência de Fernando Pessoa, enquanto tal. Nessa peça os heterónimos desfilavam e diziam poemas e lembro-me que nos dias a seguir comprei o Livro do Desassossego, de que nessa altura tinha saído a 1.ª edição.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Para a História da Educação em Portugal, I




Este diploma limitou-se a extinguir os liceus remanescentes, já que, em 1975, a maior parte dos liceus e das escolas técnicas tinham sido transformados em escolas secundárias.                                            

Na Cova dos Leões

Afinal, parece que também vai haver tolerância de ponto nos dias 11 da parte da tarde (em Lisboa) e 14 da parte da manhã (no Porto), bem como o já anunciado dia 13 (em todo o país).
Para os nossos índices de produtividade não está mal! Toda Nação deverá convergir para Fátima. O Trono e o Altar reconciliados.

O ponto

Eu contra mim falo, mas terá alguma justificação conceder «tolerância de ponto» no dia 13 de Maio, a propósito da visita do Papa? Justamente no dia 13, dando o Estado caução ao, assim chamado, "acontecimento" de Fátima. Talvez se admitisse nos dias 11 ou 12 em Lisboa ou no dia 14 no Porto - e apenas em virtude dos grandes congestionamentos previsíveis. Agora, para o pessoal ir à Cova da Iria? Então e o sacrifício? Não podem pôr um dia de férias? O pessoal que vai trabalhar para a Festa do Avante! «mete» férias...
Para a confusão ser total já só falta mesmo amnistia e perdão genérico.
Como diz o Douta Ignorância: "A tolerância de ponto anunciada a propósito da visita do Papa é apenas uma evidência da nossa falta de capacidade para distinguir o que é de Deus e o que é de César. Não é o papel de um Estado laico improvisar feriados por motivos destes. Ou bem que se entende isto, ou mais vale oficializar o retrocesso".

A chama imensa

Hoje, dia grande, depois da grande vítória de ontem. Obrigado, papoilas saltitantes!
Pablo enorme.

(com a devida vénia ao 31 da Armada)

terça-feira, 13 de abril de 2010

Divas VI



Verdade e Reconciliação

Bem a Conferência Episcopal Portuguesa - na sequência aliás de intervenções correctas do Cardeal-Patriarca de Lisboa e de D. Carlos Moreira Azevedo bem como do Bispo do Porto. Bem o Arcebispo Primaz, ao falar da necessidade de «restabelecer a justiça, purificar a memória e reafirmar, humildemente, o compromisso da Igreja de fidelidade a Deus e de serviço aos homens», «perante a grave lesão da dignidade pessoal das vítimas dos casos de pedofilia». Um instrumento que se tem mostrado eficaz nessa purificação da memória têm sido - lembre-se o processo de transição na África do Sul - as Comissões de Verdade e Reconciliação. E, dada a gravidade da questão, com efeitos à escala global, porque não um Concílio Ecuménico ou, pelo menos, uma assembleia especial do Sínodo dos Bispos?
Muito mal o Cardeal Secretário de Estado. Eduardo Pitta é, como sempre, magistral. O pior é que se calhar para Tarcisio Bertone isso não seria castigo - era bem capaz de gostar!

Here comes the sun

Here comes the sun

Deo Gratias

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O costume

Diz Daniel Oliveira (com quem a maior parte das vezes não concordo):

"Passos Coelho não precisou de mais do que 15 dias para usar a mais fácil das receitas: alimentar o ressentimento contra as principais vítimas da crise. [...]
Vou tentar explicar isto devagarinho: aqueles que recebem, por exemplo, o subsídio de desemprego são os mesmos que pagaram as suas prestações à segurança social. Eles deram a sua parte. O que recebem não é nem uma esmola nem um favor. É um direito. Um direito pelo qual pagaram ao longo dos seus anos de trabalho e descontos. O dinheiro não é nem de Sócrates, nem de Passos Coelho, nem das juntas de freguesia ou ONG’s onde os querem pôr de castigo. É deles. Foi pago por eles. Eles são a sociedade que deu e que agora recebe. Que foi solidária e que agora precisa da solidariedade. Não são criminosos condenados a “trabalho para a comunidade”. [...]
É assim que estes senhores, de Paulo Portas a Pedro Passos Coelho, querem os cidadãos: a esgatanharem-se pelas migalhas que sobram. Convencidos que a culpa da sua miséria é do miserável que mora ao lado. E um dia destes, convencidos que culpa da sua miséria é deles próprios.
Assim, entretidos uns com outros, não põem em causa os fundamentos da desigualdade social neste país. Assim, espalhando as culpas pelas aldeias, estaremos todos dispostos a exigir menos. A olhar para os direitos que demorámos décadas a conquistar como privilégios. Prontos para sermos aliados de quem quer destruir esses direitos em vez de lutarmos pelos nossos.
Por mim, sei o que a história nos ensinou: que dividir para reinar sempre foi a melhor estratégia. E que a ela só se resiste percebendo que aqueles que vivem do seu trabalho só têm uma força que os salve: tomar cada ataque a um direito de alguém da sua condição como um ataque a si próprio.
A função do discurso contra os supostos “direitos adquiridos” (que se deviam chamar direitos conquistados e ainda por conquistar) é simples: transportar o trabalhador de novo para o século XIX. Mas talvez quando voltarmos todos a trabalhar à jorna e nada nos segurar no desespero do desemprego voltemos a perceber quem são realmente os privilegiados.