sexta-feira, 25 de junho de 2010

Lupicínio Rodrigues - Vingança, de Lupicínio Rodrigues



"Eu gostei tanto,
Tanto quando me contaram
Que lhe encontraram
Bebendo e chorando
Na mesa de um bar,

[...]

Mas, enquanto houver força em meu peito
Eu não quero mais nada
Só vingança, vingança, vingança
Aos santos clamar
Ela há de rolar como as pedras
Que rolam na estrada
Sem ter nunca um cantinho de seu
Pra poder descansar"

Há dois grandes textos sobre a vingança. Um, é este samba-canção de Lupicínio. O outro, como é sabido, é O Conde de Monte-Cristo. E, claro, há a Medeia (mas isso é outra história).

quinta-feira, 24 de junho de 2010

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Leilão






Hoje descobri que venho num leilão!

Nota oficiosa

Ena, o Francisco José Viegas publicou uma observação minha de carácter teológico!

Há festa na minha terra

No dia de S. João
Há fogueiras e folias
Gozam uns e outros não
Tal qual como os outros dias

(Fernando Pessoa, Quadras ao Gosto Popular)

terça-feira, 22 de junho de 2010

Ditosa Pátria

"Estamos em vida fictícia como país independente. Somos como o sapateiro que se veste de príncipe no Entrudo. Pois bem! Comédia geral! Seja Portugal um teatro desde Monção ao Cabo da Roca!"


Camilo Castelo Branco, A Queda dum Anjo (1866)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Ídolos


Coluna, Chico Buarque e Eusébio

(com a devida vénia a Ana Cristina Leonardo)

Censuras

"Vi por mandado da santa & geral inquisição estes dez Cantos dos Lusíadas de Luís de Camões, dos valerosos feitos em armas que os Portugueses fizerão em Ásia & Europa, e não achey nelles cousa algua escandalosa nem contrária â fe & bõs custumes, somente me pareceo que era necessário advertir os Lectores que o Autor pera encarecer a difficuldade de navegação & entrada dos Portugueses na India, usa de hua fição dos Deoses dos Gentios. (…) Toda via como isto he Poesia & fingimento, & o Autor como poeta, não pretende mais que ornar o estilo Poético não tivemos por incoveniente yr esta fabula dos Deoses na obra, conhecendoa por tal, & ficando sempre salva a verdade da nossa sancta fe, que todos os Deoses dos Gentios sam Demónios."

Frei Bartolomeu Ferreira, O.P.

Saramago antes de Saramago



Lembro-me de ter visto A Noite no velho teatro da Academia Almadense pelo Grupo de Campolide - que ainda não se chamava Companhia de Teatro de Almada -, numa encenação de Joaquim Benite. Tinha uma fabulosa cenografia, simulando a redacção e impressão de um jornal e passava-se durante a noite do 25 de Abril de 1974. Nunca mais esqueci e até aí não sabia que o teatro podia ser tão "cinematográfico". 
Lembro que vi, logo depois, Que farei com este livro?, com Canto e Castro.
Da segunda peça retenho as idas de Camões à Inquisição e o famoso parecer de Frei Bartolomeu Ferreira, as actuações de Canto e Castro e de Ema Paul e o carácter datado do tom e do discurso.

domingo, 20 de junho de 2010

Na morte de Saramago

Um asco, o artigo "L'onnipotenza (presunta) del narratore" no  L'Osservatore Romano de hoje, a contrastar com o texto sereno da Igreja portuguesa: "O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura expressa o seu pesar na morte de José Saramago, grande criador da língua portuguesa e expoente da nossa cultura. José Saramago ampliou o inestimável património que a literatura representa, capaz de espelhar profundamente a condição humana nas suas buscas, incertezas e vislumbres.
Como é público, o cristianismo e o texto bíblico interessaram muito ao autor como objecto para a sua livre recriação literária. Há uma exigência e beleza nessa aproximação que gostaríamos de sublinhar. O único lamento é que ela nem sempre fosse levada mais longe, e de forma mais desprendida de balizamentos ideológicos. Mas a vivacidade do debate que a sua importante obra instaura, em nada diminui o dever da cordialidade de um encontro cultural que, acreditamos, só pode ser gerado na abertura e na diferença." (Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura).

Muito bem, a blogosfera portuguesa - mesmo a de direita (31 de Armada, incluído; menos bem o Blasfémias).
Muito mal, o senhor Presidente da República, a mostrar a sua total falta de grandeza humana e de Estadista: "Sendo um momento importante para o Estado português, ninguém faria questão que lá estivessem o Aníbal ou o Cavaco. Mas o Presidente da República, esse, nunca poderia faltar à última homenagem ao único prémio Nobel da Literatura de língua portuguesa. A um dos mais importantes escritores do século XX. Àquele que, com Pessoa, atingiu maior notoriedade internacional. É incoerente decretar dois dias de luto nacional e depois estar ausente da cerimónia oficial.
Cavaco Silva mostrou este fim-de-semana que, mesmo no cargo que ocupa, não consegue ser mais do que ele próprio. Não consegue representar o País. E um Presidente que não está acima da sua pequenez, que não percebe a grandeza de um cargo que o transcende, é e será sempre um mau Presidente." (Daniel Oliveira).

Muito mal o pateta que dá pelo nome de Duarte Pio, a quem muita gente insiste em tratar por "dom". Mas ser infeliz é o seu destino.

Muito bem a selecção nacional e a federação portuguesa de futebol.

*

Um dia destes quero escrever sobre Saramago. O escritor venerado por tantos, de Eduardo Lourenço a George Steiner, de Harold Bloom a Susan Sontag, mas desprezado pelos medíocres que ninguém conhece do outro lado da sua própria rua.

Gostaria de destacar os belíssimos textos de Francisco José Viegas e de Manuel Gusmão. Transcrevo o do primeiro:
"A consagração de Saramago deve-se à literatura e à sua «intervenção cívica» — mas só a literatura, que está ligada à eternidade, o irá transcrever mais tarde nas palavras da terra, no gigantesco poema do mundo, onde entrará Manual de Pintura e Caligrafia, por exemplo, um livro injustamente esquecido, e essa «trilogia do cânone» [Memorial do ConventoO Ano da Morte de Ricardo Reis e Ensaio sobre a Cegueira] e  onde estão inscritas as linhas de quase toda a sua obra: a atenção aos pequenos personagens (quase anónimos, quase insignificantes), o absurdo da História, a ideia de epopeia, a fragilidade do humano e do humanismo.
Tanto em Levantado do Chão como em Memorial do Convento ou em Todos os Nomes, os seus grandes personagens são essencialmente humildes, anónimos e colhidos (e escondidos) da massa da multidão. Baltazar e Blimunda em vez do rei que manda construir o convento de Mafra; os camponeses e o cão atravessando os campos do Alentejo e ressuscitando no final, em vez dos «exemplos de classe"; uma mulher anónima e discreta que enfrenta a cegueira do mundo e interpreta as suas metáforas. Mesmo o amor, mesmo o amor: é uma das suas mais belas histórias de amor, a de História do Cerco de Lisboa, a que é vivida pela editora e pelo revisor — ele, mais uma vez, o homem anónimo, humilde, modesto, que representa toda a modéstia e toda a humildade dos homens e mulheres sem história (à maneira de Gogol; ou encarando o absurdo, como Kafka).
Creio, acreditei sempre — e escrevi-o — que Saramago era um homem extremamente religioso. Só um homem religioso pode rondar a blasfémia e interrogar directamente a figura de um Deus «humanamente injusto». O resto é polémica, passagem, indignações. O que passará à eternidade é isso: talento, trabalho, dedicação" (Francisco José Viegas).