quarta-feira, 31 de março de 2010

Submarinos

(The Beatles, Yellow Submarine)

Diz acertadamente Ana Gomes no Causa Nossa:

«Sei que a aquisição dos submarinos foi feita através de um negócio corrompido, com um preço grotescamente inflaccionado (mais de 35%, já aqui o escrevi) à custa do erário público – ou seja, à custa dos contribuintes que pagam impostos e a quem agora vão ser pedidos mais; e dos portugueses mais pobres, agora em risco de perder apoios sociais.
Mas também sei que a aquisição dos submarinos foi preparada pelo governo PSD/CDS encabeçado pelo Dr. Barroso e decidida pelo curto governo PDS/CDS do Dr. Santana Lopes, passando pelo crivo da Ministra das Finanças Dra. Manuela Ferreira Leite, depois de uma negociação conduzida sob a responsabilidade do Ministro da Defesa Paulo Portas, que entregou o “encargo negocial” que devia ser assegurado pelo Estado (para isso pagamos a quadros públicos no MDN) a uma empresa - a ESCOM, do Grupo BES – que só pela sua intervenção se cobrou (nos cobrou) uns astronómicos 30 milhões de euros. Uma negociação que passou pela AR – a compra foi aprovada em Lei de Programação Militar – logo, terá de ter passado pelos partidos com assento parlamentar, incluindo o PS certamente (como, é questão pertinente, sobre a qual nada sei mas não desisti de saber).
E também sei que este negócio fraudulento, tornado suspeito pelos súbitos depósitos nas contas do CDS feitas por devotos acompanhantes de um tal Jacinto Leite Capelo Rego, desencadeou uma investigação judicial que se arrasta há anos na obscuridade.
Ah, e também sei que os chamados “offsets” – os contratos de contrapartidas, supostos trazer tecnologia inovativa para dinamizar diversas indústrias nacionais – negociados com os fabricantes dos submarinos pela “especializada” ESCOM, deram entretanto com os burrinhos na água: segundo a estatal CPC - Comissão de Contrapartidas, em Dezembro de 2009 nem 25% estavam ainda em execução, tornando o contrato dos submarinos "inexequível". Incumprimento que também se verifica a nivel preocupante nas contrapartidas dos helicópteros EH101, que o Ministro Paulo Portas também teve a responsabilidade de negociar: como me observou um chefe militar (e qualquer soldado raso percebe) - “mas já viu alguma empresa séria e sustentável vender-lhe material, e ainda lhe entregar máquinas e tecnologia de valor superior ao que você acordou pagar?".»

E Ana Gomes anda a dizê-lo há muito tempo. Mas parece que era a única. Aguardemos.

Google Books e Biblioteca Digital Camões

Google Books é uma das grandes iniciativas na Rede e que poderá, num futuro mais ou menos próximo, aproximar-se do Youtube em termos de importância, que não em termos de popularidade: haverá sempre mais pessoas a ver filmes e ouvir música do que a ler.
Aspirando a ser a maior biblioteca do mundo (virtualmente, A Biblioteca), a Google Livros contém um acervo considerável de livros à escala mundial que podem ser visualizados integralmente - obras do domínio público e obras autorizadas - ou parcialmente.
Obras que nunca consegui ler ou que, para o fazer, teria de me deslocar a uma biblioteca estão hoje disponíveis na Rede e podem ser «arrumadas» nas Prateleiras que cada pessoa pode ter na sua conta.
Hoje foi o dia de poder ler as Rimas de Luís de Camões, com o texto estabelecido e prefaciado por Álvaro Júlio da Costa Pimpão e editadas em Coimbra em 1953 «Por Ordem da Universidade nos «Acta Universitatis Conimbrigensis» e de consultar as Obras Médicas de Pedro Hispano, editadas por Maria Helena da Rocha Pereira na mesma colecção. Já estão na minha Prateleira.

A Biblioteca Digital Camões, do Instituto Camões, também disponibiliza para download (em PDF) um conjunto de obras, de que destacaria a célebre «Biblioteca Breve» do antigo ICALP e as recentes edições ne varietur dos Opera Omnia de Agustina Bessa-Luís.

A disponibilização de livros na Rede permite preservar os espécimes físicos e os constrangimentos dos horários e do funcionamento das bibliotecas e arquivos. E proteger-nos dos ácaros.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Conceito do dia - A tirania do auxílio

A tirania do auxílio

"– A tirania do auxílio. Havia entre nós quem, em vez de mandar nos outros, em vez de se impor aos outros, pelo contrário os auxiliava em tudo quanto podia. Parece o contrário, não é verdade? Pois olhe que é o mesmo. É a mesma tirania nova. É do mesmo modo ir contra os princípios anarquistas.

– Essa é boa! Em quê?

– Auxiliar alguém, meu amigo, é tomar alguém por incapaz; se esse alguém não é incapaz, é ou fazê-lo tal, ou supô-lo tal, e isto é, no primeiro caso uma tirania, e no segundo um desprezo. Num caso cerceia-se a liberdade de outrem; no outro caso parte-se, pelo menos inconscientemente, do princípio de que outrem é desprezível e indigno ou incapaz de liberdade."
 
Fernando Pessoa, O Banqueiro Anarquista

Essenciais, 6

"Mas julgar mulheres é vão emprego, pois delas tudo são memórias e não culpas."

Agustina Bessa-Luís, Adivinhas de Pedro e Inês

domingo, 28 de março de 2010

A iniquidade

As declarações de D. José Saraiva Martins C.M.F., Prefeito emérito da Congregação para a Causa dos Santos e Cardeal-Bispo de Palestrina, de que "Não devemos ficar demasiado escandalizados se alguns bispos sabiam e mantiveram o segredo. É isso que acontece em todas as famílias. Não se lava a roupa suja em público." são eloquentes de um determinado modo de ser e de estar na Igreja. Desde quando actos pedófilos praticados por membros do Clero e silenciados pelos respectivos Bispos e pela própria Santa Sé são «roupa suja»? Estas declarações não provêm de um obscurso clérigo mas da 7ª figura da Igreja Católica Apostólica Romana (por ordem de precedência do Colégio dos Cardeais). Vindo de alguém que tem como motto como «Príncipe da Igreja» Veritas in Caritate, tais palavras só podem significar que desta Igreja há muito que a Igreja de Cristo se ausentou.