segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Blake Edwards (1922-2010)





Blake Edwards foi o último dos realizadores/autores de um tipo de cinema que não mais teremos.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A escola e a democracia: alguns equívocos

Um dos erros mais frequentes da sociedade hodierna é considerar que, por ser democrática - e por não se conceber viver, hoje, numa sociedade que o não seja - todas as instituições e formas de expressão  cultural têm de assentar numa qualquer forma de legitimação democrática. A escola não é democrática. A atribuição de um prémio literário ou artístico ou a simples apreciação estética não assenta num qualquer sufrágio democrático. A organização interna de um clube ou de uma igreja (ou mesmo de um partido, mas aqui com especiais cuidados) a que se pertence livremente e de que se sai de forma igualmente livre não tem de reproduzir todo o protocolo democrático exigível para a relação do Estado com os cidadãos.

Este erro é altamente pernicioso em si mesmo e também pela sua larga difusão, tendo-se apoderado, literalmente, do argumentário popular e ideológico contemporâneo.
A sociedade é e deve ser democrática, não só na exacta medida em que "o poder está nas mãos, não de uma minoria, mas do maior número de cidadãos " segundo o enunciado de Túcidides (II, 37), mas também porque a sociedade se dotou de um sistema de "checks and balances" para aquilo que é comum a todos. Tal sistema, assumido na versão continental da separação dos poderes ou na versão anglo-saxónica da supremacia do Parlamento e da rule of law visa assegurar as liberdades individuais, protegendo-nos da «ditadura da maioria». Aquilo que é comum deve ser do interesse e da participação de todos. E à objecção antidemocrática de que o poder envolve um saber que não está ao alcance de todos deve ser devolvida a noção de que a decisão sobre aquilo que é comum deve ser propriedade plena do detentor do sensus comunis, isto é, do povo e a ideia (popperiana) de que a democracia não serve para colocar no poder os melhores, mas para retirar do poder aqueles que já não nos interessam.

Nada no princípio democrático obriga a que, numa sociedade democrática, todas as instituições e formas de expressão devam ser, ipso facto, democráticas. Por muito que almas caridosas o reclamem, a escola, por exemplo, não é nem deve ser democrática. Uma escola é o lugar da transmissão - palavra que arrepia os cabelos aos "pedagagos" -, da translatio studii da tradição e dos saberes. Transmitem os que sabem, isto é, os mestres que são, em regra, os mais velhos. Assim, uma escola não é democrática mas, pelo contrário, é e deve ser aristocrática e gerontocrática. Nela devem mandar os professores, porque sabem e apenas na exacta medida em que sabem. Os mais novos, os alunos, são os que não sabem e que, por definição estão aptos para o saber. Tal posição em nada os diminui, antes pelo contrário: liberta-os para o saber. Os projectos educativos, os projectos curriculares e os regulamentos internos das nossas organizações escolares deviam assentar sobre esta evidência. Mas eu sei que não é assim. Eu sei que se valorizam os «saberes» que as crianças e alunos já "transportam", mesmo que tais saberes sejam paupérrimos e redundantes. Eu sei que a transmissão é uma palavra sem valor no mercado pedagógico. Eu sei que a ideia do professor como instância do saber e, portanto, do poder está fora de moda. Eu sei que assumir que a escola e a sala de aula não são nem nunca foram democráticas simplesmente porque não podem ser tal, não tem direito de cidadania nos tempos actuais. Hélas!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Pisa-papéis

A melhoria dos resultados dos alunos portugueses no Programme for International Student Assessment (PISA), ontem divulgados, não terão alguma coisa a ver, também, com as aulas de substituição ou com o Plano de Acção para a Matemática, entre muitas outras medidas do consulado de Maria de Lurdes Rodrigues?


domingo, 5 de dezembro de 2010

Divas, 14


Irene Pappas
Ειρήνη Παππά
No seu rosto, uma civilização inteira. A que nos fala Grego, mas que também poderia cantar o Fado.

Um dos momentos mais emocionantes da minha vida foi ter estado a centímetros dela na estreia de O Princípio da Incerteza, de Manoel de Oliveira. Conversava animadamente com John Malkovich, que com ela contracena em Um Filme Falado. E ali estava, sorridente e serena, entre os comuns, como se não fosse uma das maiores actrizes da história do cinema (como, aliás, dela disse a Maior, a Hepburn, a Katharine). A Outra, a Deneuve, nem apareceu... - tinha ficado no hotel.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Essenciais, 9

"O universal, é o local menos os muros" (Miguel Torga)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Bo

O grande ausente - embora nunca esquecido - da Cimeira da NATO de Lisboa


O exame de Filosofia

Uma excelente notícia dos últimos dias é a reintrodução do exame da disciplina de Filosofia. Na sequência do que dissemos aqui, a realização de um exame nacional de Filosofia e a sua utilização como disciplina específica para acesso ao ensino superior - a começar, pelos cursos de Filosofia - é um passo decisivo para a revitalização da disciplina no ensino não superior, para a retomada da produção bibliográfica científica e didáctica a que se assistia e para a dignificação e reconhecimento externo do trabalho dos seus docentes e alunos. Falta, agora, reordenar a oferta de disciplinas de opção no 12.º ano de escolaridade de modo a que a disciplina possa ser, efectivamente, escolhida.

P.S.: A preparação desta medida começou coxa. O quase-extinto - e bem! - Gabinete de Avaliação Educacional anunciou a realização de testes intermédios em Filosofia, o que é uma boa decisão. No entanto, como se vai tornando praxe, tal medida foi introduzida com o ano lectivo já começado e com todo o planeamento já realizado. Hélas!

Aditamento: Francisco José Viegas, com o seu habitual acerto, saúda o regresso do exame de Filosofia.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Essenciais, 8

"o exemplo de uma autoridade frágil e indigna, o costume de uma longa duração, a opinião profana da maioria, a ostentação de uma sabença aparente que esconde a própria ignorância. […] Destas pestes mortíferas provêm todos os males do género humano."

Roger Bacon, Opus Maius, I, i

terça-feira, 9 de novembro de 2010

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Belém 2011


Cavaco Silva - nem morto!

Manuel Alegre - nem pensar!

Fernando Nobre - Deus me livre!

Francisco Lopes - nem a brincar!

Defensor de Moura - quem?

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

sequência

Hoje, dia de todos os santos; amanhã, dia de todos os mortos.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O apagamento da Filosofia

A disciplina de Filosofia tem ocupado um lugar respeitável nos diversos ordenamentos curriculares dos últimos 30 anos. Na reforma curricular de 1979, por exemplo - a melhor estrutura curricular que conheci - a Filosofia ocupava um lugar central enquanto disciplina obrigatória para todos os cursos (tronco comum), situando-se no âmbito das disciplinas de «formação geral» dos 10.º e 11.º anos de escolaridade, com 3 horas por semana. O lugar central da disciplina era reforçado ao nível do 12.º ano - via de ensino, em que a Filosofia era a «disciplina-base» do 3.º curso, justamente o que dava acesso aos cursos das áreas das humanidades e das ciências sociais e humanas, incluindo o curso de Direito, usufruindo de 4 horas semanais. O prestígio da Filosofia reflectiu-se no incremento das publicações nessa área, na proliferação de revistas e no número crescente de traduções de textos clássicos e contemporâneos, sem paralelo em outras épocas históricas. Mesmo a introdução dos cursos técnico-profissionais não afectou o estatuto da disciplina, a qual era obrigatória mesmo nessa modalidade de ensino.
A reforma curricular de 1989 manteve o estatuto da disciplina nos 10.º e 11.º anos, atribuindo-lhe, no entanto, a infeliz designação de «Introdução à Filosofia», na sequência, aliás, da tentativa de eliminação da disciplina e sua substituição por «História das Ideais e da Cultura». Mas, ainda assim, a disciplina existia e em condições de igualdade, quer nos cursos de carácter geral, quer nos cursos tecnológicos. Ao integrar definitivamente o 12.º ano no ensino secundário, a disciplina de Filosofia perdeu a dignidade de disciplina fundamental e foi remetida para o elenco das disciplinas de «opção». No entanto, o facto de, avisadamente, as faculdades de Direito, por exemplo, elegerem a Filosofia como disciplina específica para acesso aos seus cursos, permitiu que a disciplina fosse bastante procurada. Razões que se prendem com a própria estrutura do programa da disciplina no 12.º ano mantiveram o ritmo e a qualidade das publicações e das traduções.
No que diz respeito ao ensino nocturno, a Filosofia tinha um estatuto similar ao que tinha no ensino diurno, existindo no Curso Complementar dos Liceus e no 12.º ano. Nem a introdução do ensino recorrente no nosso sistema educativo afectou de modo considerável o estatuto da Filosofia, sem prejuízo da extinção da via de ensino do 12.º, a exemplo do que aconteceu no ensino diurno.
O processo de  revisão curricular de 2001-2004 e as sucessivas alterações ao modelo deram alguns sinais contraditórios. Por um lado, aumentou-se a carga horária da disciplina em uma hora semanal (entretanto convertida em blocos) e estabeleceu-se o paralelismo entre o ensino diurno e o ensino recorrente por módulos capitalizáveis.  Por outro, as trocas-baldrocas a que a disciplina foi sujeita ao longo dos vários ensaios de revisão até 2004 - existia no 12.º ano; não existia no 12.º ano, trocada por Ciência Política; como não existia, o exame passou para o 11.º ano; afinal existe no 12.º ano, mas esqueceram-se de voltar a passar o exame para o 12.º ano! -, bem como a paulatina extinção dos cursos tecnológicos originou um resultado catastrófico. A disciplina praticamente só existe nos cursos de prosseguimento de estudos dos 10.º e 11.º anos; quase ninguém escolhe a disciplina no 12.º ano, dado que há disciplinas mais apetecíveis; depois de cerca de dois anos de experiência de exame nacional no 11.º ano (à semelhança de outras disciplinas) a disciplina deixou de estar sujeita a avaliação sumativa externa, i. é, a exame nacional. Nem mesmo para aceder aos cursos superiores de Filosofia é permitido ao aluno realizar exame de Filosofia! Somado a isso, a introdução dos cursos profissionais e a sua proliferação, e em que não está prevista a disciplina de Filosofia mas apenas uma excrescência chamada Área de Integração, levou ao quase desparecimento da disciplina, ao seu apagamento efectivo, estando os seus profissionais sujeitos à leccionação de mil-e-uma matérias que nos deveriam envergonhar a todos.
Para além dos óbvios prejuízos para a educação e para os alunos, o apagamento da Filosofia tem levado a um arrefecimento da produção filosófica, a uma rarefacção das traduções de textos filosóficos - a que as Edições 70, a INCM e a Porto Editora, por exemplo, nos tinham habituado - e a um esvaziamento do papel dos filosófos portugueses e das instituições filosóficas nacionais. Sinal muito evidente disso é o silenciamento de alguns projectos na blogosfera e na Internet em geral, como sejam o Centro para o Ensino da Filosofia, entre outros. As Universidades estão preocupadas com o assunto? Não me parece.

P.S.: O quase-extinto GAVE anunciou a realização de testes intermédias em Filosofia. Pelo que cheirisquei parece-me bem. Pode ser que ainda se salve alguma coisa...

As inutilidades didácticas

Há muito que o nosso sistema educativa abunda em inutilidades didácticas. Um caso muito especial são as disciplinas e áreas disciplinares criadas nos ensinos básico e secundário e também no ensino superior (aí o caso pia-mais-fino, chegando a haver situações em que se criavam licenciaturas que mais não eram que o desenvolvimento de capítulos de uma tese que alguém tinha feito: e de uma assentada criavam-se n cadeiras. Mariano Gago fez algum desbaste). No ensino não superior, foram criadas, decerto com intuitos bondosos e edificantes, áreas disciplinares como sejam as diversas áreas de Projecto (3.º ciclo do ensino básico e 12.º ano de escolaridade), o Estudo Acompanhado e a Formação Cívica. As almas que as conceberam - Ana Benevente e seus sequazes - acreditam piamente que tais áreas contribuem positivamente para a aquisição de competências transversais e se constituem como poderosos auxiliares de outras disciplinas. O resultado (não me peçam número, gráficos e estudos!) é o que se vê. No caso da Área de Projecto do 12.º ano, estas actividades prejudicam seriamente a frequência das disciplinas propriamente ditas, fazem os alunos e as famílias gastarem dinheiro inutilmente e produzem resultados que nos deveriam envergonhar. Nem sequer se constituem como actividades de preparação para trabalhos de investigação no ensino superior: as universidades queixam-se, justamente, da incompetência dos nossos alunos em matéria de leitura, redacção e capacidades de pesquisa. Mas há pior. Sobretudo no ensino secundário, foram crescendo disciplinas que não correspondem a áreas científicas reconhecíveis, com estatuto epistemológico indefinido, ou que são, quando muito, matéria de nível pós-graduado. Quando era professor, cheguei a ter que ensinar Psicossociologia num curso tecnológico de animação social bem como a inefável Área de Integração nos cursos profissionais, uma mistela de coisa nenhuma. E qual a razão de se ensinar Ciência Política no 12.º ano, uma invenção de David Justino, em detrimento da Filosofia? E, mesmo, Direito, que as próprias faculdades desconsideram? Terá algum sentido aprender Antropologia ou, mesmo, Sociologia no ensino secundário como se aquilo que se visa alcançar com tal leccionação não fosse possível de alcançar através da História ou da Filosofia? A disciplina, que quase ninguém escolhe, de Clássicos da Literatura só existe como sintoma da má consciência de se ter esvaziado o Português justamente.. de Literatura. Um dia voltarei a esta questão que me parece gravíssima: os jovens portugueses estão praticamente impedidos de aceder ao cânone literário do seu país.
A outra razão para a criação dessas disciplinas prende-se com a dinâmica de publicações, colóquios, conferências, acções de formação que propiciam. Os autores dos programas são os autores dos materiais, são os organizadores das conferências e são formadores e repetem formação contínua sobre essas, digamos, temáticas por todo o país e ad nauseam. É um neverending story!
Enquanto isso, disciplinas fundamentais e aprendizagens de banda larga são claramente desconsideradas e subalternizadas, casos da Filosofia, da História, da Física e Química, da Biologia e Geologia. Um dia pagaremos caro. Já estamos a pagar.

P.S.: Agora que os constrangimentos orçamentais obrigam à extinção de, pelo menos, a Área de Projecto e o Estudo Acompanhado, os sindicatos de professores queixam-se do facto de que cerca de 5 mil docentes - ena tantos! - ficarem prejudicados... Então o problema é esse! Ainda haveremos de chegar à conclusão que as Novas Oportunidades eram, afinal, muito boas. A sua extinção prejudica muita gente e não apenas na 24 de Julho.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Mariana Rey Monteiro (1922-2010)


Mariana Rey Monteiro, atrás de sua mãe, a mítica Amélia Rey Colaço

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Essenciais, 7


"No hallarás sin no, ni cosa sin un sino"

Baltasar Gracián, El Criticón (1657), III, IX

domingo, 17 de outubro de 2010

Obituários

Alfredo Margarido (1928-2010). Relembro o tradutor de Moby Dick e o ensaista, sobretudo um excelente estudo sobre o africanista Ramires. Dele nada mais li, verso e prosa.

Aníbal Pinto de Castro (1938-2010). Muito caro aos camilianistas e aos camilianos, em que me incluo.


sábado, 16 de outubro de 2010

Boas notícias no meio da tempestade

Do relatório do Orçamento de Estado para 2011 constam uma série de fusões e extinções, as quais, no âmbito da educação, são as seguintes:

«É extinto, sendo objecto de fusão, o Gabinete Coordenador do Sistema de Informação, sendo as suas atribuições integradas no Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação.
5. É extinta, sendo objecto de fusão, a Comissão para a Optimização dos Recursos Educativos, sendo as suas atribuições integradas no Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação.
6. É extinto, sendo objecto de fusão, o Observatório das Políticas Locais da Educação, sendo as suas atribuições integradas no Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação.
7. É extinto, sendo objecto de fusão, o Gabinete de Gestão Financeira do Ministério da Educação, sendo as suas atribuições integradas na Secretaria-Geral do Ministério da Educação.
8. É extinto, sendo objecto de fusão, o Gabinete de Avaliação Educacional, sendo as suas atribuições integradas na Direcção-Geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular."
 
Portanto, de substancial, extingue-se a MISI e ao GAVE - como já tinha apontado em posts anteriores - e, surpresa da surpresas, também o Gabinete de Gestão Financeira, cujas atribuições passam para a Secretaria-Geral.
 
Aguardemos.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Novas Oportunidades


Quem tanto brama contra o facilitismo e eventual fraude dos processos de reconhecimento, validação e certificação de competências - e provavelmente, com inteira razão - aceitará a extinção do Centro Novas Oportunidades (CNO) da sua escola e que tantos horários tem proporcionado ao pessoal? Ou será que ainda assistiremos à beatificação dos CNO como agora se faz com o Ensino Recorrente?

A reforma do Estado

A proposta de extinção de serviços e organismos do Estado e da Administração Pública apresentada por Marques Mendes – “olha que melro!”, como diriam a Juliana e a Tia Vitória d’O Primo Basílio – seria uma proposta a considerar se ela tivesse por base algum princípio lógico reconhecível. Assentando no que o Autor considera «duplicação de funções», Marques Mendes confunde organismos da Administração directa e indirecta com órgãos com estatuto constitucional próprio e exteriores à Administração Pública, confunde meros órgãos de consulta sem relevância orçamental com gabinetes de estudos e confunde institutos da Administração indirecta do Estado com direcções-gerais. A impressão que dá é de um trabalho feito em cima-do-joelho, mal escrito e muito pouco consistente.

Apenas três exemplos:

Marques Mendes, esse iluminado, propõe que as competências da Comissão Nacional de Eleições passem para o STAPE. Para além do facto de o STAPE ter sido extinto há uns anos, é impensável que as competências de uma Comissão prevista no texto constitucional e independente da máquina do Governo – por isso funciona junto da Assembleia da República – possam ser absorvidas por uma direcção-geral de um Ministério, neste caso, a Direcção-Geral da Administração Interna. Trata-se de confundir funções executivas com funções de controlo externo. Nem sei as implicações internacionais que tal facto teria quanto à credibilidade externa e interna dos nossos processos eleitorais.

No que ao Ministério da Educação diz respeito, Marques Mendes propõe e bem que as competências do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE), do Gabinete de Estudos e Planeamento da Educação (GEPE) e do Gabinete Coordenador do Sistema de Informação do Ministério da Educação (MISI) – que não são institutos públicos, ao contrário do que diz – sejam absorvidas por um único serviço. As atribuições do GAVE nada têm a ver com as dos outros dois. Parece-me que Marques Mandes nem conhece bem as funções de cada organismo e fica-se pelas designações (e nelas se fia). É óbvio que o GEPE deveria absorver a MISI, mas as atribuições do GAVE deveriam ser absorvidas pela Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular (DGIDC), eventualmente rebaptizada como Direcção-Geral da Educação. Sempre me fez muita impressão que as diversas recomposições orgânicas do Ministério da Educação tivessem mantido o GAVE, no fundo uma direcção-geral com a atribuição quase exclusiva de produzir os exames nacionais, à custa de professores nele requisitados e que, estranhamente, se mantêm em funções nas escolas. Estranha-se o silêncio de Marques Mendes quanto à necessária extinção na Agência Nacional para a Qualificação, I.P.
Face à proposta de extinção das direcções regionais de educação – possível, mas apenas a muito longo prazo, com a necessária transferência de competências para as escolas e o correspondente reforço inspectivo – Marques Mendes não apresenta solução para o vazio entretanto criado.

A proposta de extinção da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA) – outro órgão exterior à máquina do Governo e na dependência do Parlamento – parece-me ser particularmente grave, dado que esta se constituiu como um órgão de efectiva defesa dos interesses dos particulares face a um Estado fechado e largamente prepotente. Quererá Marques Mendes um regresso ao passado?

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Dame Joan Sutherland - 1926-2010



Morreu La Stupenda

Cortar na despesa, IV


Extinção dos governos civis, essas sinecuras com cheiro a mofo e cujos titulares ainda tinham algum charme nas novelas de Camilo, Júlio Dinis e em Eça de Queirós. Eu sei que os governos civis têm consagração constitucional enquanto não forem instituídas as regiões administrativas. Mas, para contornar isso, bastaria ao Governo proceder à transferência das suas - magras - atribuições para as Lojas do Cidadão, municípios e para os ministérios com competência em razão da matéria e não proceder à nomeação dos respectivos titulares. Mas eu sei que isso custa! Afinal, onde é que se vai meter o pessoal que já não cabe no Parlamento ou nas empresas públicas? Por exemplo, as tipas giras...

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Cortar na despesa, III

Extinção do Gabinete Coordenador do Sistema de Informação do Ministério da Educação (MISI@), por incorporação no Gabinete de Estudos e Planeamento da Educação.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

terça-feira, 5 de outubro de 2010

VIVA A REPÚBLICA

5 de Outubro de 1910 / 5 de Outubro de 2010

Novas versões oficiais do Hino Nacional para orquestra e coro e para solista, orquestra e coro (com Elisabete Matos) e também para piano, piano e coro, grande orquestra, orquestra clássica e banda.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Cortar na despesa, II

Extinção do GAVE - Gabinete de Avaliação Educacional e da ANQ - Agência Nacional para a Qualificação, I.P., por incorporação na Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular (DGIDC), a qual passaria a chamar-se Direcção-Geral da Educação.

Centenário da República, VI

Em Almada, a República foi proclamada de véspera, faz hoje 100 anos. No dia 4 de Outubro de 1910, foram desfraldadas as bandeiras do «Centro Republicano Elias Garcia», do «Centro Republicano Capitão Leitão» e uma outra republicana, respectivamente na Câmara Municipal, na Administração do Concelho e no Forte de Almada. As bandas filarmónicas sairam à rua tocando A Portuguesa e A Marselhesa.


(A Marselhesa, na versão de Hector Berlioz)

domingo, 3 de outubro de 2010

Cortar na despesa, I

Independentemente das questões legais e concordatárias que possa levantar, o fim do pagamento por parte do Estado dos vencimentos dos professores de Educação Moral e Religiosa Católica ou de outras confissões seria uma medida a tomar no âmbito da redução da despesa pública. Se as igrejas e comunidades religiosas pretendem usar a escola pública para educar os seus seguidores devem pagá-lo do seu bolso. Seria... moral.

Dalida - Je suis malade, de Serge Lama



Evocação pelo compositor aqui

Centenário da Republica, V


Cá em casa, era eu pequeno, lia-se o República

sábado, 2 de outubro de 2010

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Dia Mundial da Música - Maria João Pires, Concerto para Piano n.º 9 "Jeunehomme" em mi bemol maior K. 271, de Mozart - Orq. Filarmónica de Berlim, dir. Trevor Pinnock

Dia Mundial da Música - Arthur Rubinstein, Polonaise, Op. 53, de Chopin

José Afonso - Os Vampiros



Mais do que actual

Centenário da República, III


Afonso Costa, em 1908

A equidade


As anunciadas medidas de austeridade prevêem o aumento, em um ponto percentual, da contribuição dos trabalhadores do Estado para a Caixa Geral de Aposentações.
O Governo justifica tal medida com o facto de se proceder ao «alinhamento» com as contribuições dos trabalhadores do sector privado para a Segurança Social.
Ora o Governo mente e sabe bem que mente: a Taxa Social Única cifra-se em 11%; a quotização para a Caixa Geral de Aposentações passa a cifrar-se, também, em 11%. O problema é que os trabalhadores do Estado ainda descontam - obrigatoriamente - mais 1,5% para a ADSE, o que perfaz um desconto total para o «regime de protecção social convergente» (antigo «regime de protecção social da função pública») de 12,5%.
Anunciado, que está, o corte substancial das compartipações da ADSE, percebe-se que o esbulho feito aos trabalhadores da Administração Pública outro destino não terá que não seja o financiamento dos diversos buracos em que o desnorte orçamental deste Governo enfiou o país.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Divas, XI


Arthur Penn (1922-2010)



O que eu gosto desta Faye Dunaway. Qualquer dia vou-me a ela...

Tony Curtis (1925-2010)



Também se foi o cantor Eddie Fisher (1928-2010), pai da Carrie, i. é, da Princesa Leia e que trocou a Debbie Reynolds pela Elizabeth Taylor que o trocou pelo Richard Burton.

Paulo de Carvalho - Flor Sem Tempo

Centenário da República, II


(Partida da Família Real para o exílio: Sua Majestade Fidelíssima El-Rei D. Manuel II, Rei de Portugal e dos Algarves, D'Aquém e D'Além Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da Índia; Suas Majestades as Rainhas D. Amélia de Orléans e Bragança e D. Maria Pia de Sabóia e Bragança, Sua Alteza o Infante D. Afonso, Principe Real, Duque do Porto e Condestável do Reino)

Aniversário


(São Jerónimo, Doutor da Igreja - 30 de Setembro)

(S. Jerónimo, de Albrecht Duerer)

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A praxe, pela última vez


Continua, nas nossas cidades, essa variante lusa do síndrome de Estocolmo que dá pelo nome de praxe!

P.S.: Palavras avisadas no Adeus Lenine.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Em defesa da Festa

Excelente iniciativa de Moita Flores: petição em defesa da Festa Brava, com um bom texto do signatário. É de assinar!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A praxe

Por estes dias, as nossas principais cidades enchem-se do vergonhoso espectáculo das praxes, ditas, académicas. Alunos de capa e batina - ou pior, como é o caso das novas universidades regionais, que tiveram de inventar traje que lhes dê um passado ou tradição que não têm - impõem tratos de polé aos «caloiros» e estes aceitam as maiores humilhações na certeza de que, para o ano, vingar-se-ão noutros desgraçados. Pintados, sujos, reduzidos à dimensão de «coisa», alvos de chantagem soez (ou alinhas, ou não és «dos nossos»).
Hoje, na Rua Augusta, vi um bando de alunos de Farmácia, que gritava alarvemente e obrigava os «caloiros» a ajoelharem e a dizerem um conjunto de parvoíces. Ninguém se revoltava. O restante povo sorria e apreciava. É triste.

Quando me lembro que no meu tempo de faculdade se dizia "morra a praxe, viva o haxe..."!

P.S.: O meu amigo Mário Carneiro publicou este texto, ligeiramente alterado, no seu blogue O Estado da Educação e do Resto

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Os clássicos

Um país civilizado é aquele cujos clássicos estão permanentemente disponíveis, seja em edições de referência, seja em edições acessíveis ao grande público mas assentes em textos rigorosamente fixados. Alguma coisa tem sido feita, mérito de alguns investigadores, universidades e casas editoras. A Imprensa Nacional tem cumprido o seu papel. No entanto, permanecem, indesculpavelmente, algumas zonas de sombra. Uma delas é Alexandre Herculano. Figura incontornável da literatura e da historiografia portuguesas, não tem no mercado livreiro actual edições de referência dignas desse nome. As edições das suas obras dirigidas por Vitorino Nemésio encontram-se esgotadas, para já não falar da inexistência de uma autêntica obra completa, tarefa nunca concluída, permanecendo por editar muitos textos dispersos. Num período em que o romance histórico se tornou moda, a ausência de Herculano no nosso tempo é um mistério por esclarecer. O mesmo acontece com Almeida Garrett, do qual, no entanto, se iniciou a publicação da Edição Crítica (na INCM). Escândalo dos escândalos: de Camilo Castelo Branco não existe uma edição de conjunto (a edição da Lello não está, propriamente, ao alcance do grande público, dado o seu elevadíssimo custo e não é uma edição completa, muito menos crítica), sendo hoje inacessíveis muitos dos volumes das Obras dirigidas por Jacinto do Prado Coelho para a Parceria A. M. Pereira.
Para não ir além do século XX, autores como Fialho de Almeida e Ramalho Ortigão tornaram-se invisíveis, dado o desparecimento das edições da Livraria Clássica Editora.
Valham-nos os alfarrabistas e os recentemente por mim descobertos leilões na Net.


(Edição crítica do Eurico - já a tinha e comprei outra para oferecer ao meu primo Xico)

Bento XVI no Reino Unido - Passagens canónicas

"Albeit the king's Majesty justly and rightfully is and ought to be the supreme head of the Church of England, and so is recognized by the clergy of this realm in their convocations, yet nevertheless, for corroboration and confirmation thereof, and for increase of virtue in Christ's religion within this realm of England, and to repress and extirpate all errors, heresies, and other enormities and abuses heretofore used in the same, be it enacted, by authority of this present Parliament, that the king, our sovereign lord, his heirs and successors, kings of this realm, shall be taken, accepted, and reputed the only supreme head in earth of the Church of England, called Anglicans Ecclesia; and shall have and enjoy, annexed and united to the imperial crown of this realm, as well the title and style thereof, as all honors, dignities, preeminences, jurisdictions, privileges, authorities, immunities, profits, and commodities to the said dignity of the supreme head of the same Church belonging and appertaining; and that our said sovereign lord, his heirs and successors, kings of this realm, shall have full power and authority from time to time to visit, repress, redress, record, order, correct, restrain, and amend all such errors, heresies, abuses, offenses, contempts and enormities, whatsoever they be, which by any manner of spiritual authority or jurisdiction ought or may lawfully be reformed, repressed, ordered, redressed, corrected, restrained, or amended, most to the pleasure of Almighty God, the increase of virtue in Christ's religion, and for the conservation of the peace, unity, and tranquility of this realm; any usage, foreign land, foreign authority, prescription, or any other thing or things to the contrary hereof notwithstanding."

Acto de Supremacia, de Henrique VIII de Inglaterra (1534)

Bento XVI no Reino Unido

"The Roman Catholic religion, with its train of priests and friers, is more expensive than ours: Even though unaccompanied with its natural attendants of inquisitors, and stakes, and gibbets, it is less tolerating: And not content with dividing the sacerdotal from the regal office (which must be prejudicial to any state), it bestows the former on a foreigner, who has always a separate interest from that of the public, and may often have an opposite one."

terça-feira, 7 de setembro de 2010

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Itália - Inscrições



Das centenas de fotos que trouxe de Itália, destaco três menos comuns: a muito procurada Fontana dei Libri romana - leitmotiv deste blogue - e que, afinal, estava perto da Piazza Navona; a memória de Garibaldi em Verona; o local de execução de Savonarola na Cidade das Flores.

José Pacheco Pereira teve a amabilidade de as publicar no seu blogue.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

De novo na Bota

Itália, cá vou eu outra vez:  Lombardia, Veneto, Emilia-Romagna,Toscânia, Úmbria, Lazio.


No fim, regresso à minha Cidade Eterna

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Apontamento

A pior ilusão é imaginar que os inimigos dos nossos inimigos, nossos amigos serão.

Rádio, V


Nunca abotoe um botão de um elevador em andamento…
Há várias maneiras de um homem se abotoar. Por exemplo: com milhares de contos!
Homem desabotoado vale por dois!
-Tem-se abotoado bem, ele… ah...!?
-Pois: abotoou-se e depois habituou-se…


Os Hunos foram os primeiros a considerarem-se hunos e indivisíveis. Indivisíveis porque eram primos.


As receitas dos médicos são as despesas dos doentes.


Um semideus é deus da cintura para cima ou da cintura para baixo?


Um domingo nunca vem só: traz a semana inteira.


As pilhas podem dar à luz: pilha és, mãe serás!


Até o tempo mal empregado se desconta para a Caixa!


Penso, logo rápido.


Uma carta de apresentação apresenta-se bem e o defeito que tem é ser tão usada.


Uma mulher fartava-se de lhe dizer:
- Não te Descartes marido, não te Descartes…
Ficou célebre como filósofo e matemático do século XVII…


Um carteiro quando faz batota, mete as cartas do 1º. esquerdo no 4º. frente.


Quando a família real joga às cartas todos estão proibidos de dizer: - Só me saem duques!



Pão com Manteiga, 2 (Lisboa, 1981)

A rádio, IV

Falta falar da Antena 2, antigo «Programa 2» da Emissora Nacional. Para além de ter contribuido fortemente para a minha educação musical - relembro O Canto e os Seus Intérpretes, de Maria Helena de Freitas -, a «Emissora 2» passava teatro radiofónico de qualidade, com adaptações notáveis de obras literárias e peças de teatro propriamente ditas. Relembro uma excepcional adaptação de Bastardos do Sol, de Urbano Tavares Rodrigues. Durante anos recebia uma revistinha com a programação do mês seguinte. Assinalava tudo aquilo que queria ouvir - e nem sempre cumpria. Mas era muito estimulante.

Na música erudita a minha grande referência é, ainda e sempre, o António Cartaxo. Como acontece relativamente a alguns outros (João Bénard, Victorino d'Almeida, Maria Helena de Freitas, David Mourão-Ferreira, Eduardo Prado Coelho), devo-lhe muito em sabedoria que não conservei.

A rádio, III

A melhor rádio que ouvi, ouvi-a a partir de 1979, na Rádio Comercial, nos bons velhos tempos da RDP - Rádio Comercial, que sucedeu ao Rádio Clube Português. Programas fabulosos: a 24ª Hora, os Cinco Minutos de Jazz, o Rock em Stock, o Café-Concerto, As Noites Longas do FM Stereo, O Som da Frente, O Calor da Noite, Musicando, A Grafonola Ideal e a Febre de Sábado de ManhãCantores do Rádio, TNT - Todos no Top, O Vapor, Morrison Hotel, Pedras Rolantes, o Pão com Manteiga - era a "doce mania de rádio". E claro, havia os programas que vinham do antigamente: o Quando o Telefona Toca - que também havia na Renascença - e os Parodiantes de Lisboa.

Depois veio a TSF - Rádio Jornal. Fixei-me nela. A rádio deixou de me fazer a companhia sistemática dos tempos antigos. Talvez volte...

P.S.: E o Em Órbita! Tentava gravar sempre - em cassetes - aqueles concertos fabulosos dos English Baroque Soloists, com direcção de John Eliot Gardiner.

A rádio, II

Quando despertei para a rádio era isto que se ouvia: a Emissora Nacional "de Radiodifusão" (só se dizia, "a Emissora Nacional", ou "a Emissora"), a Rádio Renascença ("Emissora Católica Portuguesa"), o Rádio Clube Português e os Emissores Associados de Lisboa (os chamados "postos pequenos")


A rádio

Hoje que a rádio em Portugal faz 75 anos, aqui deixo uma imagem da minha «telefonia» mais preciosa: o Grundig 945 W que a minha avó Teresa me ofereceu (a imagem não é do meu exemplar - foi retirada da Net - mas está igualzinho).

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Fernando Savater sobre a proibição das corridas de touros na Catalunha


Brilhante Fernando Savater, na sequência, aliás, de vários textos seus sobre o assunto:

"Por supuesto, no es el caso presentar argumentos a favor o en contra de mantener las corridas de toros, como suele decirse: quienes tienen que justificar la insólita medida son los que han decidido prohibirlas parlamentariamente. Hay gente a la que le gustan los toros y otros muchos que no han pisado una plaza en su vida o que sienten repugnancia por la fiesta: es la diversidad de los hijos de Dios. Pero que un Parlamento prohíba una costumbre arraigada, una industria, una forma de vida popular... es algo que necesita una argumentación muy concluyente. La que hemos oído hasta la fecha dista mucho de serlo.
¿Son las corridas una forma de maltrato animal? A los animales domésticos se les maltrata cuando no se les trata de manera acorde con el fin para el que fueron criados. No es maltrato obtener huevos de las gallinas, jamones del cerdo, velocidad del caballo o bravura del toro. Todos esos animales y tantos otros no son fruto de la mera evolución sino del designio humano (precisamente estudiar la cría de animales domésticos inspiró a Darwin El origen de las especies). Lo que en la naturaleza es resultado de tanteos azarosos combinados con circunstancias ambientales, en los animales que viven en simbiosis con el hombre es logro de un proyecto más o menos definido. Tratar bien a un toro de lidia consiste precisamente en lidiarlo. No hace falta insistir en que, comparada con la existencia de muchos animales de nuestras granjas o nuestros laboratorios, la vida de los toros es principesca. Y su muerte luchando en la plaza no desmiente ese privilegio, lo mismo que seguimos considerando en conjunto afortunado a un millonario que tras sesenta o setenta años a cuerpo de rey pasa su último mes padeciendo en la UCI.
¿Son inmorales las corridas de toros? Dejemos de lado esa sandez de que el aficionado disfruta con la crueldad y el sufrimiento que ve en la plaza: si lo que quisiera era ver sufrir, le bastaría con pasearse por el matadero municipal. Puede que haya muchos que no encuentren simbolismo ni arte en las corridas, pero no tienen derecho a establecer que nadie sano de espíritu puede verlos allí. La sensibilidad o el gusto estético (esa "estética de la generosidad" de la que hablaba Nietzsche) deben regular nuestra relación compasiva con los animales, pero desde luego no es una cuestión ética ni de derechos humanos (no hay derechos "animales"), pues la moral trata de las relaciones con nuestros semejantes y no con el resto de la naturaleza. Precisamente la ética es el reconocimiento de la excepcionalidad de la libertad racional en el mundo de las necesidades y los instintos. No creo que cambiar esta tradición occidental, que va de Aristóteles a Kant, por un conductismo zoófilo espiritualizado con pinceladas de budismo al baño María suponga progreso en ningún sentido respetable del término ni mucho menos que constituya una obligación cívica.
¿Es papel de un Parlamento establecer pautas de comportamiento moral para sus ciudadanos, por ejemplo diciéndoles cómo deben vestirse para ser "dignos" y "dignas" o a que espectáculos no deber ir para ser compasivos como es debido? ¿Debe un Parlamento laico, no teocrático, establecer la norma ética general obligatoria o más bien debe institucionalizar un marco legal para que convivan diversas morales y cada cual pueda ir al cielo o al infierno por el camino que prefiera? A mí esta prohibición de los toros en Cataluña me recuerda tantas otras recomendaciones o prohibiciones semejantes del Estatut, cuya característica legal más notable es un intervencionismo realmente maníaco en los aspectos triviales o privados de la vida de los ciudadanos.
En cambio no estoy de acuerdo en que se trate de una toma de postura antiespañola. No señor, todo lo contrario. El Parlamento de Cataluña prohíbe los toros pero de paso reinventa el Santo Oficio, con lo cual se mantiene dentro de la tradición de la España más castiza y ortodoxa." (El Pais, 20/07/2010)

Pino Donaggio - Io che non vivo senza te



A tradição melódica da canção italiana

terça-feira, 27 de julho de 2010

A. O. S. (m. 27/07/1970 - 27/07/2010)

Nenhuma virtude. Nenhuma!

Divas, X


Divas, IX



Sem ofensa à sacrossanta memória de Katharine Hepburn - Meryl é a maior actriz da história do cinema

Divas, VIII


quarta-feira, 21 de julho de 2010

Os instalados

Pacheco Pereira, como quase sempre, certeiro:

"Olhando para os encontros dos “artistas” que venceram a Ministra encontramos um dos mundos menos conhecidos e escrutinados da vida pública portuguesa. Porém, existe uma relação directa entre a ausência de escrutínio do seu trabalho e a capacidade que têm de influenciar os media a favor das suas causas, quer porque o seu lugar é central em certas “indústrias culturais”, a que os media estão associados, quer pelo preconceito da intangibilidade da “cultura”, da “criação”, da “arte”.
Este mundo funciona em circuito fechado, e desconhece-se que critérios presidem ao seu funcionamento e como são verificados os resultados dessa aplicação do dinheiro dos contribuintes. Sabe-se que não é pelo interesse do público, visto que estes ramos de “cultura” e “arte” abominam tal critério vulgar, de serem avaliados, entre outras coisas, pelo interesse que suscita o seu trabalho pelo comum dos portugueses.
É verdade que a verba que gastam do erário público não é elevada, mas é dinheiro dos contribuintes que tem direito de saber onde e com quem é gasta. Os grupos de “artistas”, principalmente na área do teatro e da “performance”, empregam um número significativo de pessoas, cuja trabalho individual é desconhecido e não avaliado. São “artistas” e como se auto-classificam como tal, quase tudo lhes é permitido, e respondem com enorme arrogância a qualquer avaliação.
Tanto “artista”, tanto “criador”, que nós temos por metro quadrado! O modo como se apresentam tem toda a prosápia burocrática e cultural."

Mais: aqui

P.S.: Não sou contra os subsídios, que existem em qualquer país civilizado. Sou a favor da rigorosa avaliação das candidaturas, por um comité de sábios, como em qualquer país civilizado. Sou a favor de contrapartidas, que se traduzam em real descentralização, prestação de serviços, designdamente às escolas e educação pela arte. Sou contra a arrogância de quem acha que nada tem de explicar e fundamentar só porque é... artista... Há uns dias, uma tal Filomena Cautela - aliás, boa actriz e bonita rapariga, rebitesa e empertigadamente interessante - ralhava na televisão pública (onde tem um programa, pago por nós todos) a exigir subsidiação a quem não se vende aos interesses comerciais. Está-se mesmo a ver que o programa em que ela pontifica e ganha o seu quinhão para o sustento não é «comercial»... - deve ser «artístico»!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Maria Teresa de Noronha (Condessa de Sabrosa) - Minhas Saudades



Fahrenheit 451, de François Truffaut


Revisionismo constitucional, III

Contributo para a revisão constitucional:

"O artigo 11.º da Constituição da República Portuguesa passa a ter a seguinte redacção:

Artigo 11.º
(Símbolos nacionais, língua oficial e capital)

1. ...................................................................................
2. ...................................................................................
3. ...................................................................................
4. A capital de Portugal é a cidade de Lisboa."

Assim seja.

Revisionismo constitucional, II

Um dos grandes equívocos do actual regime é chamar ao nosso sistema constitucional de semi-presidencialista; de facto ele é, desde 1982, semi-parlamentar, na exacta medida em que, nessa 1.ª revisão, foi retirado ao Presidente da República o poder de demitir livremente o Governo.

domingo, 18 de julho de 2010

revisionismo constitucional, I

Ter como autor de proposta de revisão da Constituição da República o presidente da Causa Real e membro do conselho privado do duque de Bragança não lembra ao diabo.

P.S.: O Paulo Guinote também o notou: "não deixa de ser delicioso ver um monárquico a definir as regras para o melhor funcionamento da República".

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Braga, a Idolátrica

Regressado de Braga, onde fui assistir a um seminário sobre Educação, relembro o célebre texto do Pacheco:

"Bebo mais que um Arcebispo, com o Bom-Jesus em cenário. Deixo de pensar na Morte, essa magana. Estou um tanto pesado e alegrote. Voltamos a Braga. Cafés. Decido ficar. O Forte dá-me cinco escudos, que é quanto lhe resta. Um bom Libertino não precisa de dinheiro. Decido ficar e fazer uma tarde de luxúria mental em Braga, para esconjurar o cheiro a incenso e mofo de padre que empestam estas ruas."


Luiz Pacheco, O Libertino Passei por Braga, a Idolátrica, o Seu Esplendor (texto integral, aqui)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Simplex


A propósito do recente e já tradicional despacho de organização do ano lectivo. Muitas vezes tem de ser o próprio Estado a dizer aos seus "repetidores" - mais papistas do que o próprio Papa - o óbvio:

"6.º -A
Redução das tarefas administrativas

1 — A marcação e realização das reuniões previstas no n.º 2 do artigo 2.º do presente despacho e da alínea c) do n.º 3 do artigo 82.º do ECD deve, para o reforço da sua eficácia, eficiência e garantia do necessário tempo para o trabalho dos docentes a nível individual, ser precedida:
a) Da ponderação da efectiva necessidade da sua realização e da possibilidade de atingir os mesmos objectivos através de outros meios, desde que não se trate de matérias que careçam legalmente de deliberação do órgão em causa;
b) De uma planificação prévia da reunião, estabelecendo as horas de início e do fim e com ordens de trabalho exequíveis dentro desse período;
c) Da atribuição aos seus membros trabalho que possa ser previamente realizado e que permita agilizar o funcionamento dessas reuniões;
d) Do estabelecimento de um sistema de rigoroso controlo na gestão do tempo de forma a cumprir a planificação.
2 — Os órgãos dos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas, e bem assim as respectivas estruturas de coordenação educativa e supervisão pedagógica, devem:
a) Evitar a exigência ao pessoal docente de documentos que não estejam legal ou regulamentarmente previstos;
b) Contribuir para que os documentos exigidos aos docentes ou produzidos na escola tenham uma extensão o mais reduzida possível;
c) Assegurar que a escola só se envolve em projectos que se articulem com o respectivo projecto educativo.»

Espero que se continue a mudar as rotinas nas escolas portuguesas.