Amália, para além da consolidação do cânone fadista, foi responsável por fixar interpretações canónicas no âmbito do folclore português e pela fixação definitiva de interpretações das marchas de lisboa.
No primeiro caso, podemos dizer que há Amália e há as outras e que se deixam resumir em Maria Teresa de Noronha, Lucília do Carmo, Hermínia Silva, Beatriz da Conceição e Argentina Santos. Sem elas, não haveria Mariza, Aldina Duarte, Ana Moura, Carminho ou Raquel Tavares.
No segundo caso, há as interpretações enxutas da tradição folclórica nacional, acompanhadas das excelentes orquestrações de Joaquim Luís Gomes na sequência dos famosos concertos no Lincoln Center de Nova Iorque e no Hollywood Bowl de Los Angeles, sob a direcção de André Kostelanetz. Interpretações contidas, sem sotaques regionais, sem sombra de rancho folclórico, sem mácula. As posteriores séries de folclore acompanhado à guitarra e à viola não resultariam tão bem.
No terceiro caso, estamos em presença de interpretações definitivas na exacta medida em que depois de Amália o ter feito ninguém mais o deve fazer. Não morro de amores por marchas populares de Lisboa e por tudo o que lhe está associado, mas as versões de Amália são sublimes e estão para este género como José Afonso está para o fado de Coimbra: não mexam mais que só pode ficar pior!
O LP
Marchas de Lisboa, de 1969 (33 RPM, Columbia, PMX5014, Stereo) - editado na sequência de anteriores EP's - tem, na capa, o meu tio
Celestino Silva ao lado da Amália. O meu tio Celestino - tio por afinidade - é irmão do saudoso Varela Silva, cunhado de Amália pelo casamento com
Celeste Rodrigues. Começou, tal como ele, na
Guilherme Cossoul e é, actualmente, actor na
Companhia de Teatro de Almada.
P.S.: Esta raridade já cá canta - estava num leilão na Net.