quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal - Kalenda

Vinte e Cinco de Dezembro. Oitava Lua.

Tendo transcorrido muitos séculos desde a criação do mundo,

Quando no princípio Deus tinha criado o céu e a terra e tinha feito o Homem à sua imagem;

E muitos séculos de quando, depois do dilúvio, o Altíssimo tinha feito resplandecer o arco-íris, sinal da Aliança e da Paz;

Vinte e um séculos depois da partida de Abraão, nosso pai na fé, de Ur dos Caldeus;

Treze séculos depois da saída de Israel do Egipto, sob a guia de Moisés;

Cerca de mil anos depois da unção de David como rei de Israel;

Na sexagésima quinta semana, segundo a profecia de Daniel;

Na época da centésima nonagésima quarta Olimpíada;

No ano setecentos e cinquenta e dois da fundação da cidade de Roma;

No quadragésimo segundo ano do Império de César Octaviano Augusto;

Quando em todo o mundo reinava a paz, Jesus Cristo, Deus Eterno e Filho do Eterno Pai, querendo santificar o mundo com a sua vinda, tendo sido concebido por obra do Espírito Santo, tendo transcorrido nove meses, (aqui eleva-se a voz, e todos se ajoelham) nasce em Belém da Judeia da Virgem Maria, feito homem:

Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a natureza humana.

Graças a Deus.

"Kalenda" (in Martirológio Romano)


domingo, 20 de dezembro de 2009

sábado, 19 de dezembro de 2009

Jennifer Jones (1919-2009)



João Bénard, que falta cá fazes!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

sábado, 21 de novembro de 2009

Salvemos o Lince



As escolas portuguesas estão cheias de tesouros. Uma recente visita a uma delas permitiu-me recordar e fotografar sofrivelmente o cartaz que tantas vezes vi e que constituiu a primeira campanha de salvaguarda do património ambiental em Portugal: «Salvem o Lince e a Serra da Malcata». Aqui fica.

sábado, 14 de novembro de 2009

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Anselmo Duarte (1920-2009)

Ministra da Cultura



Já tinha havido uma Ministra assim tão bonita?

terça-feira, 10 de novembro de 2009

É a Constituição

Uma das lacunas da nossa Constituição é o não apontar claramente para matérias da competência exclusiva do Governo - com excepção das relativas à sua própria organização e funcionamento. A inexistência de uma «reserva da competência administrativa» vai causar muita confusão nesta legislatura. Ao mesmo tempo, vão ser muito interessantes os pronunciamentos do Tribunal Constitucional.
Há uma norma ainda não evocada no debate público mais recente, blogosfera incluída, e que se prende com uma disposição contida no artigo 167º da nossa lei fundamental, a qual reza assim:

«2. Os Deputados, os grupos parlamentares, as Assembleias Legislativas das regiões autónomas e os grupos de cidadãos eleitores não podem apresentar projectos de lei, propostas de lei ou propostas de alteração que envolvam, no ano económico em curso, aumento das despesas ou diminuição das receitas do Estado previstas no Orçamento.»

Como isto dá para quase tudo, aguardemos o que se segue!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Essenciais, 1

"A experiência de voltar a viver a ferida do passado é mais forte do que a vontade de esquecer. E assim a existência do ressentimento mostra como é artificial o corte entre o passado e o presente, que deste modo vivem um no outro, tornando-se o passado um presente mais presente que o presente."
Marco Ferro, O Ressentimento na História

terça-feira, 3 de novembro de 2009

domingo, 25 de outubro de 2009

Caim

Quem comenta o "caso Saramago" já se deu ao trabalho de ler A Religião nos Limites da Simples Razão de Kant? É que, de facto, a Bíblia é, em muitas passagens, um «manual de maus costumes»!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Agustina


Hoje que Agustina faz anos, adquiri uma das suas «obras invisíveis». Quando me tornei leitor de Agustina Bessa-Luís - em 1982, ano de Os Meninos de Ouro - sempre persegui fervorosamente o livro Embaixada a Calígula, editado em 1961 pela Livraria Bertrand. Nunca o encontrei. O facto de ser um livro de «literatura de viagens» e o facto de parte substancial da obra se fixar em Itália, outra das minhas obsessões - tudo isso me compelia para a obra e ela era inacessível.
Foi agora reeditada no âmbito da Opera Omnia em boa hora editada pela Guimarães.
Vou ler...








Esta era a capa original da edição que não se encontra em lado nenhum

domingo, 11 de outubro de 2009

As autárquicas

Lá fui votar e uma vez mais fui votar para a Assembleia de Freguesia e para dois «parlamentos» municipais: a Câmara Municipal e a Assembleia Municipal. O facto de não votarmos nem para a Junta de Freguesia - que emana da respectiva assembleia - nem para o Governo - que emana da Assembleia da República - torna a situação ainda mais caricata. Ao nível do município temos duas «assembleias», sendo que a propriamente dita tem diminutos poderes.
Apesar do novo texto da Constituição, os partidos ainda não se entenderem quanto à alteração da lei ordinária que permitiria uma única eleição a nível municipal, a da Assembleia. Assim, o 1.º candidato do partido mais votado seria eleito Presidente da Câmara Municipal e escolheria a vereação de acordo com o equilíbrio de forças presentes na Assembleia Municipal, dotada esta de poderes acrescidos de fiscalização. O melhor seria mesmo abolir a designação «Câmara Municipal» porque, de facto, «câmara» corresponde a «assembleia». Mas o nome tem longa tradição e é dos mais reconhecidos popularmente. E porque não chamar Alcaide ao Presidente da Câmara?
Por outro lado, a existência de câmaras municipais em que o vereador responsável, por exemplo, pelos lixos é de cor política diferente da do Presidente resulta em quê? Trata do lixo e dá votos à maioria ou não trata do lixo e não cumpre com as funções que lhe foram confiadas?

O fecho das urnas


Mas porque será que as eleições nos Açores não se iniciam uma hora mais cedo, de modo a podermos ter sondagens à boca das urnas logo às 19 horas?

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Nos dez anos da morte de Amália (6 de Outubro de 1999) - Gaivota, de Alain Oulman e Alexandre O'Neill



AMÁLIA

Na tua voz há tudo o que não há,
há tudo o que se diz e não se diz.
Há os sítios da saudade em tua voz,
o passado, o futuro, o nunca, o já,
há as sílabas da alma, e há um país.
Porque tu, mais que tu, és todos nós.

Na tua voz embarca-se e não mais,
não mais senão o mar e a despedida,
há um rastro de naufrágio em tua voz
onde há navios a sair do cais,
nessa voz por mil vozes repartida.
Porque tu, mais que tu, és todos nós.

Há mar e mágoa, e a sombra de uma nau,
a Gaivota de O'Neil e o rio Tejo,
saudade de saudade em tua voz,
um eco de Camões e o escravo Jau,
amor, ciúme, cinza e vão desejo.
Porque tu, mais que tu, és todos nós.

Manuel Alegre

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Anunciado Óscar honorário para Lauren Bacall


A mais bela mulher da história do cinema, "o mais belo animal do mundo", não é Marilyn Monroe ou Ava Gardner, Sofia Loren ou Catherine Deneuve. É, pura e simplesmente, Betty Joan Perske e passou à história e ao mito com o nome de LAUREN BACALL.

domingo, 13 de setembro de 2009

Honras de Panteão


Mas porque razão não teve Jorge de Sena Honras de Panteão?

sábado, 12 de setembro de 2009

Jorge de Sena - Regresso à Pátria


Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente â secular justiça,
para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.»
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de urna classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de té-1a.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém
está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
multas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam «amanhã».
E. por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.

Jorge de Sena, Carta a Meus Filhos sobre os Fuzilamentos de Goya (25/6/1959), in Metamorfoses, Lisboa, 1963

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Biblioteca

O ficheiro da minha biblioteca pode ser consultado neste sítio.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Mário Soares sobre Manuela Ferreira Leite

O artigo de ontem de Mário Soares no Diário de Notícias mostra o que se pode esperar de um futuro Governo liderado por Manuela Ferreira Leite:

«A entrevista que a dra. Manuela Ferreira Leite concedeu à RTP1, que vi e ouvi com a maior atenção, constituiu, para mim, uma profunda decepção. Não esperava muito, confesso, dadas as intervenções que tem feito, desde que é líder do PSD. Mas foi pior do que supunha. De uma banalidade que, algumas vezes, roçou o patético.

Só falou dela própria. É uma pessoa séria, decidida, que tem o culto da verdade, que só faz o que deve e não abre concessões para ninguém, sejam amigos ou não. Já o sabíamos. Mas tudo isto é o pressuposto para qualquer político, que tenha princípios éticos e não seja um oportunista. Não precisava, portanto, de o dizer, muito menos tê-lo dito à saciedade. Seria mais subtil - e ficar-lhe-ia com certeza melhor - se mandasse dizer a outrem todos os auto-elogios com que entendeu dever mimosear-se...

Mas isso é uma questão de forma, mais ou menos elegante. O pior foi o conteúdo. Quanto à definição das políticas que entende dever promover, não se dignou dizer-nos nada de concreto. Um deserto de ideias. Como irão então decidir-se os eleitores nas escolhas a fazer? Não deu qualquer elemento novo. Limitou-se a apresentar a sua personalidade de moralista, como paladina da verdade e pura como uma vestal, em contraste com a do seu principal adversário, José Sócrates, a quem não se impediu de chamar "mentiroso" (sic), um termo pouco próprio num debate democrático entre adversários políticos. Com um olhar de mazinha ao canto do olho, que me surpreendeu...

Sendo economista de profissão e antiga ministra das Finanças, funções em que, aliás, não se destacou especialmente, esperar-se- -ia que Manuela Ferreira Leite revelasse algumas ideias novas para vencer a crise, que é, afinal, o que os portugueses querem acima de tudo saber. Mas não. Atirou a questão para um programa que há-de vir, para depois de Agosto, porque agora os portugueses não têm disposição para essas leituras. Manuela Ferreira Leite fala por si. Mas, que diabo, se não quer falar das questões de que é especialista, por as julgar enfadonhas em Agosto, será que trazia na manga do impecável vestido bege, que lhe ficava tão bem, alguns apontamentos sobre cultura, educação, ciência, ambiente, Europa, justiça, administração, Segurança Social, luta contra a criminalidade, defesa, luta contra o terrorismo, imigração, política no sentido mais estrito, relações partidárias, reforço da democracia? Nada! Realmente, não disse nada de jeito, sobre nenhum dos temas da actualidade que refiro. Então, perguntar-se-á: para que concedeu esta entrevista à RTP1, agora, em meados de Agosto, se não tinha ou não queria dizer nada? Apenas para se mostrar no seu encantador new look? Nesse aspecto, aceito que, dentro do possível, não tenha estado mal. Mas o pior é que não disse, aos seus compatriotas, nada do que eles esperavam e desejavam ouvir... Nesse aspecto, a entrevista foi uma verdadeira ocasião perdida!»

Mário Soares está melhor do que nunca. Os meus sublinhados sublinham a mordacidade com que trata M.F.L. Chapeau!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Gripe A


Uma das coisas positivas da Gripe A é pôr as pessoas a lavar as mãos - hábito que os portugueses pouco cultivam!

domingo, 2 de agosto de 2009

M. S. Lourenço (1936-2009)


Foi meu professor de Lógica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa no ano lectivo de 1986-1987. Nessa altura, para mim, ainda não era M.S. Lourenço mas apenas o Prof. Manuel Lourenço. Dava as aulas teóricas da Cadeira expondo a «Teoria Clássica da Dedução» com ar distante, entediado talvez - tendo plena consciência do desinteresse da maior parte dos alunos pela disciplina. Só mais tarde percebi a importância da Lógica, a importância de Manuel Lourenço como verdadeiro fundador dos estudos de Lógica em Portugal e a importância de M. S. Lourenço. Do grupo de «O Tempo e Modo», M. S. Lourenço foi um notável poeta, um escritor de uma escrita inaudita em Portugal - O Doge, atribuído ao Arquiduque Alexis-Christian Von Ratselhaft und Gribskov e Os Degraus do Parnaso - e grande tradutor de Wittgenstein - o Tractatus e as Investigações Filosóficas -, de Goedel e de Joyce. Estudioso de Wittgenstein - tema da sua tese de doutoramento, Espontaneidade da Razão. A Analítica Conceptual da Refutação do Empirismo na Filosofia de Wittgenstein, era, reconhecidamente, um dos mais importantes filósofos no âmbito da Lógica e da Filosofia da Matemática . Andou por Inglaterra - onde foi aluno de Michel Dummett e de G. E. M. Anscombe -, EUA e Áustria. Era dos professores mais cultos e cosmopolitas do Curso. Morreu ontem. Era pai do escritor e grande helenista Frederico Lourenço.

Página de M. S. Lourenço na Internet (onde pode ser lida uma grande entrevista conduzida por Miguel Tamen)

P.S.: Desidério Murcho, que foi meu contemporâneo no Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras de Lisboa, presta-lhe uma significativa homenagem na Crítica.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Michael Jackson (1958-2009)


Nada a dizer... - nunca gostei da sua persona artística e não admiro a sua obra, mas reconheço a importância da sua contribuição para a história do pop, o seu talento e a sua longa carreira. R.I.P.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Registos Centrais

Actualizado Life on Mars?, de David Bowie

It's a God awful small affair
To the girl with the mousey hair
But her mummy is yelling, "No!"
And her daddy has told her to go
But her friend is no where to be seen
Now she walks through her sunken dream
To the seat with the clearest view
And she's hooked to the silver screen
But the film is a sadd'ning bore
For she's lived it ten times or more
She could spit in the eyes of fools
As they ask her to focus on

Sailors
Fighting in the dance hall
Oh man!
Look at those cavemen go
It's the freakiest show
Take a look at the lawman
Beating up the wrong guy
Oh man!
Wonder if he'll ever know
He's in the best selling show
Is there life on Mars?

It's on America's tortured brow
That Mickey Mouse has grown up a cow
Now the workers have struck for fame
'Cause Lennon's on sale again
See the mice in their million hordes
From Ibiza to the Norfolk Broads
Rule Britannia is out of bounds
To my mother, my dog, and clowns
But the film is a sadd'ning bore
'Cause I wrote it ten times or more
It's about to be writ again
As I ask you to focus on

Sailors
Fighting in the dance hall
Oh man!
Look at those cavemen go
It's the freakiest show
Take a look at the lawman
Beating up the wrong guy
Oh man!
Wonder if he'll ever know
He's in the best selling show
Is there life on Mars?

The Beatles - Something In The Way She Moves, de George Harrison (Abbey Road - 1968)

Dia de Portugal, Dia de Camões

Um país que tem como dia nacional o dia do seu poeta nacional. Um país que tem um poeta que fundou a língua e fundou a pátria. Um país que é Camões

Busque Amor novas artes, novo engenho
Pera matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê,

Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê.

domingo, 7 de junho de 2009

Der Zauberberg




Finalmente!
Vou reler o meu Romance, o Romance por antonomásia, o Romance absoluto.

David Carradine (1936-2009)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

João Bénard da Costa (1935-2009)


Há pessoas a quem devemos tanto, que determinaram de tal modo o nosso modo de pensar que, o momento do seu desaparecimento- talvez não paradoxalmente - acaba por nos devolvê-los na condição de Obra. Com João Bénard da Costa aprendi muito e apenas através dos seus textos e das suas intervenções na Cinemateca. Relembro as suas «folhas» - mais tarde editadas - onde dissecava Hitchcock, Capra, Buñuel, Ford, Cukor, Lubitsh, Walsh, Wilder e tantos, tantos outros. Relembro a sua mítica paixão pelo Johnny Guitar de Nicholas Ray, os seus magníficos textos sobre o Musical, as suas frases lapidares como esta sobre Katharine Hepburn : «ela foi a melhor e a mais importante actriz da história do cinema». Mais há, sobretudo o seu grande amor pelo Cinema, o magnífico Português do seu discurso, a sua condição de «vencido do Catolicismo», O Tempo e o Modo, Mounier, a Cinemateca, Os Filmes da Minha Vida/Os Meus Filmes da Vida, O Cinema Português Nunca Existiu, Muito Lá de Casa e muito mais. Obrigado, João Bénard!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Amálias

A pior coisa que poderemos fazer à memória de Amália Rodrigues é tentar, em vão, repeti-la no seu mesmo registo como o fazem incessantemente algumas fabulosas e outras tão-somente "bonitinhas" novas vozes do Fado. Daí a importância de um projecto como o Amália Hoje, de Nuno Gonçalves, com Sónia Tavares (The Gift), Paulo Praça e Fernando Ribeiro (Moonspell) que, ao forçar a memória de Amália a um estranhamento pop, lhe devolve outrossim toda a modernidade e todo o cosmpolitismo que a diva, ela própria, sempre evidenciou e foi o seu grande conseguimento.


terça-feira, 12 de maio de 2009

Poe




De uma assentada ficámos com a Poesia Completa e com Todos os Contos (2 vols.) de Edgar Allan Poe. Se lhes juntarmos a antologia de Helena Barbas - Poética (Textos Teóricos) - ficamos com a Obra quase completa do Autor. À parte as célebres traduções de Fernando Pessoa, Poe era muito mal tratado em edição portuguesa e estava disperso. Vou "afundar-me" em Poe - e confirmar que o meu Mestre Bloom não tem razão quando dizia que os seus contos "estão horrivelmente escritos (como também os seus poemas) e ganham ao ser traduzidos, até para inglês" e chamando-lhe "o abominável Poe" (Harold Bloom, Como Ler e Porquê, Lisboa, Caminho, 2001, pp. 34 e 49).

terça-feira, 5 de maio de 2009

Lugares, I - Roma, Campo dei Fiori




Um dos meus lugares preferidos, o Campo dei Fiori, na minha Cidade preferida. A estátua inquietante de Giordano Bruno no meio da confusão do mercado. Do lado esquerdo, a excelente livraria Fahrenheit 451, a lembrar outras fogueiras.

sábado, 11 de abril de 2009

Os Russos


E que dizer dos Russos? Antes tinhamos edições mal amanhadas do francês. Hoje, graças aos esforços de Nina e Filipe Guerra, por um lado, e de António Pescada, por outro, possuímos traduções directa do russo de obras fundamentais como Guerra e Paz, Anna Karénina, A Morte de Ivan Illitch e Sonata de Kreutzer de Tolstói, algum Turguenév, quase todo o Gógol, quase todo o Dostoiévski, quase todo o Tchékhov, Margarida e o Mestre, O Doutor Jivago e muitos outros.
Spasiba!

Clássicos

O mesmo se diga da Literatura. Os últimos anos têm propiciado o aparecimento de primeiras traduções, ou traduções refrescadas, de Homero (Ilíada, Odisseia, por Frederico Lourenço), Hesíodo, Ésquilo, Sófocles (na MinervaCoimbra), Eurípides, Menandro, Apuleio, Horácio (as Odes, por Pedro Braga Falcão), Petrónio (O Satyricon, por Delfim F. Leão), Ovídio (A Arte de Amar, Amores, por Carlos Ascenso André; Metamorfoses, por Paulo Farmhouse Alberto), etc.
Fora do âmbito das humanidades clássicas greco-latinas, têm surgido traduções de Dante e Petrarca (por Vasco Graça Moura), do Quijote (duas edições, uma por José Bento e outra por Miguel Serras Pereira), do Orlando Furioso de Ariosto, a Edição da Obra Dramática Completa de Shakespeare (na Campo das Letras, que agora faliu...), Milton (Paraíso Perdido), William Blake, Lautréamont, Walt Whitman, Pablo Neruda (por Albano Martins), Poe e muito, muito mais.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Filosofia


Vão longe os tempos em que os principais textos da literatura mundial e da Filosofia se liam em traduções francesas ou inglesas. Quando comecei o curso, Platão tinha poucas traduções, Aristóteles nem se fala e no que diz respeito a Kant começava-se a dar os primeiros passos com a Crítica da Razão Prática (de Artur Morão) e, principalmente, com a Crítica da Razão Pura (de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão). Passados 20 anos, o panorama é completamente diferente: Platão está praticamente todo traduzido (falta uma edição de conjunto, com unidade de procedimentos interpretativos), Santo Agostinho, Espinosa, o essencial de Kant também, Nietzsche, Wittgenstein, etc.
Gostaria de chamar a atenção para um acontecimento editorial e cultural da máxima relevância - e que deveria teria mais destaque, não fosse a normal tradicional desatenção ao que é mesmo importante - e que é a Edição da Obras Completas de Aristóteles, dirigida por António Pedro Mesquita na INCM. Trata-se da primeira edição numa única colecção, à escala mundial, da Obra Completa do Estagirita, constituindo o primeiro volume uma «Introdução Geral» à Obra, da autoria do coordenador da edição e que constitui uma apresentação do «estado da arte» dos estudos aristotélicos. E que é também capaz, de num momento de síntese, de afirmar: « o aristotelismo é a ontologia natural do Ocidente - e por isso, e ele também um fim que não finda, isto é, o melhor fim. Este destino dá que pensar. Teria Aristóteles presentido que, enquanto Alexandre estava a construir um império, ele andava construindo uma civilização para ele? Ninguém decerto o saberá jamais - o que, evidentemente, é nesta matéria de importância alguma.»

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Património




O Centro de Arqueologia de Almada é uma das mais importantes organizações não-governamentais portuguesas de defesa do património histórico e ambiental. Com uma valiosa produção bibliográfica, edita, desde 1982, a revista Al-Madan, provavelmente a melhor revista da especialidade.

Património


Novo livro dos meus primos Francisco Silva e Elisabete Gonçalves e do Centro de Arqueologia de Almada prosseguindo o levantamento patrimonial do concelho de Almada. História local rigorosa e cientificamente ancorada. Uma edição da Junta de Freguesia do Pragal.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Provedor de Justiça

O lamentável episódio de escolha do novo Provedor de Justiça deixa mal quase toda a gente. O PS e a inabilidade, diria quase a inépcia de Alberto Martins, já revelada demasiada vezes para se tornar um destino: aliás, nunca se viu ninguém dar cabo da sua própria biografia com tanta desenvoltura. O PSD, que já "abichou" vários Provedores e ainda não está satisfeito. O próprio Provedor de Justiça cessante que, em desespero de causa, profere dislates em entrevista à Visão. O Presidente da Assembleia da República e o próprio Chefe de Estado que estiveram calados todos estes meses.
A importância do cargo é atestada pelos níveis de eficiência, que são incontornáveis. Que o Parlamento não consiga eleger o titular de um cargo com relevância constitucional diz muito sobre a qualidade da nossa democracia e sobre os partidos maioritários que se têm revezado no poder.
Um detalhe: parece que anda tudo à volta do facto do Provedor de Justiça ter assento no Conselho de Estado. De facto, o legislador constituinte de 1982 fez essa gracinha quando criou o órgão de consulta do Presidente da República. Não se percebe qual a razão dessa inerência, sobretudo quando o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e o Procurador-Geral da República não têm assento no órgão e, por maioria de razão, deveriam tê-lo.

Edmund Burke, A Vindication of Natural Society (1756)


Mais de duzentos anos após a morte de Edmund Burke (1729-1797), surge agora em tradução portuguesa, pela mão do meu amigo Pedro Santos Maia, a obra de juventude do autor das Reflections on the Revolution in France, o mais famoso dos textos anti-revolucionários. Que eu saiba, esta Defesa da Sociedade Natural (Lisboa, Círculo de Leitores /Temas e Debates, Col. «Clássicos da Política», 2009) é a primeira tradução portuguesa de um texto de Burke e vem enriquecida por uma modelar introdução e valiosas e eruditas notas, no seguimento da dissertação de Mestrado apresentada pelo tradutor à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1995, a merecer publicação (Pedro Santos Maia, Burke e a Revolução).

sábado, 21 de março de 2009

Antanho




Preencher à mão, «resumo», «itinerário», a antiga menção "Servidor do Estado" e à extinta D.G.C.P.: nada ultrapassa o encanto do Boletim-Itinerário! Como diria Hegel: nem tudo o que existe é real.

Série FC

A minha série favorita de ficção científica foi a 1ª temporada de Espaço 1999, com Barry Morse e antes da ridícula aparição de «Maya». Lembro-me que quando a 1ª temporada terminou (1977), a RTP exibiu uma série chamada Star Maidens e uma outra, alemã, que agora descobri ter sido ainda produzida a preto-e-branco: As Fantásticas Aventuras da Nave Orion, e que era já nessa altura bastante antiga (1965-66). Graças ao Youtube pude rever algumas cenas. Aqui ficam:




segunda-feira, 16 de março de 2009

Os Poemas, I

Ah, que me metam entre cobertores,
E não me façam mais nada!...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores!

Lã vermelha, leito fofo. Tudo bem calafetado...
Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira...
Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado
Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira.

Não, não estou para mais; não quero mesmo brinquedos.
P'ra quê? Até se mos dessem não saberia brincar...
Que querem fazer de mim com estes enleios e medos?
Não fui feito p'ra festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar!...

Noite sempre p'lo meu quarto. As cortinas corridas,
E eu aninhado a dormir, bem quentinho - que amor!...
Sim: ficar sempre na cama, nunca mexer, criar bolor -
P'lo menos era o sossego completo... História! Era a melhor das vidas...

Se me doem os pés e não sei andar direito,
P'ra que hei-de teimar em ir para as salas, de Lord?
Vamos, que a minha vida por uma vez se acorde.
Com o meu corpo, e se resigne a não ter jeito...

De que me vale sair, se me constipo logo?
E quem posso eu esperar, com a minha delicadeza?
Deixa-te de ilusões, Mário! Bom édredon, bom fogo -
E não penses no resto. É já bastante, com franqueza...

Desistamos. A nenhuma parte a minha ânsia me levará
P'ra que hei-de então andar aos tombos, numa inútil correria?
Tenham dó de mim. C'o a breca! levem-me p'rá enfermaria -
Isto é: p'ra um quarto particular que o meu pai pagará.

Justo. Um quarto de hospital - higiénico, todo branco, moderno e tranquilo;
Em Paris, é preferível, por causa da legenda...
De aqui a vinte anos a minha literatura talvez se entenda;
E depois estar maluquinho em Paris, fica bem, tem certo estilo...

Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas-feiras,
Se quiseres ser gentil, perguntar como eu estou.
Agora no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores maneiras.
Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo o mais acabou.

Mário de Sá-Carneiro, Caranguejola

domingo, 15 de março de 2009

Almada e o Vaticano

A minha terra no Bollettino da Sala Stampa della Santa Sede, de 14/03/2009! Eis o comunicado:

«NOMINA DELL’INVIATO SPECIALE ALLA CELEBRAZIONE DEL 50° ANNIVERSARIO DELL’INAUGURAZIONE DEL SANTUARIO DI CRISTO RE (ALMADA, PORTOGALLO, 17 MAGGIO 2009)

Il Santo Padre ha nominato l’Em.mo Card. José Saraiva Martins, C.M.F., Prefetto emerito della Congregazione delle Cause dei Santi, Suo Inviato Speciale alla celebrazione del 50° anniversario dell’inaugurazione del Santuario di Cristo Re ad Almada (Portogallo) il 17 maggio 2009.»

sábado, 7 de março de 2009

Philip José Farmer (1918-2009)


A revisitar. Agora que a Ficção Científica anda tão arredada do nosso horizonte cultural e tão confundida, nas nossas livrarias, com o Fantástico, o Gótico e etc.

quarta-feira, 4 de março de 2009

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Inscrições III

Para o meu amigo basco, Fernan
Numa Rua de Lisboa

Inscrições II


(Palmela)

Inscrições I


Na Rua Barros Queirós, em Lisboa, existe este sinal que sempre me intrigou pelo seu carácter irrepetido em qualquer outra rua de Lisboa ou de qualquer outra cidade que eu conheça. Eu sei que o Código da Estrada se aplica aos peões, mas esta manifestação de excesso de zelo - que, pelo que sei, é muito antiga - chega a ser tocante.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Jornalismo de investigação

Não costumo ler livros de «jornalismo de investigação». Qualquer coisa na transposição do jornal ou da revista para o formato livro desperta em mim um cuidado redobrado. Afinal, a charlatanice é sempre possível, sobretudo num meio em que não há conselhos de redacção, ERC (acho eu!) ou controlo dos pares a intervir. Claro que tudo isto é um disparate: há grandes livros de jornalismo de investigação nos países civilizados, sobretudo anglo-saxónicos, e nunca será demais lembrar esse livro seminal que é In Cold Blood de Truman Capote. Em Portugal há pouco e não é bom. Acabei de ler Em Nome de Deus, de David Yallop (2006) sobre a morte do pobre João Paulo I. As teorias da conspiração nunca me interessaram particularmente e acabam por ser frequentemente ridículas. Neste caso, o livro é convincente, reunindo o Autor matéria factual - não diria probatória, mas enfim - suficiente e, apesar de me ter perdido no emaranhado de relações - P2, Opus Dei, bancos, investimentos, financiamentos, pessoas - a trama acaba por ser convincente. A lição é conhecida: os responsáveis pela morte serão altos dignitários da Cúria Romana, entre os quais o Cardeal Villot, à época Secretário de Estado, Marcinkus, chefe do «Banco do Vaticano», P2 e tutti quanti. Interessante é a crítica feroz a João Paulo II, conhecedor das mudanças que o seu Predecessor pretendia operar e causa eficiente da sua morte, por nada ter feito para apurar a verdade e, pelo contrário, de ter mantido e promovido alguns dos responsáveis pelo assassinato do Papa Luciani. «Woytila nada fez. Temos um papa que censura publicamente os padres da Nicarágua pelo seu envolvimento na política e que, ao mesmo tempo, abençoa a entrega, secreta e ilegal, de grandes somas ao Solidariedade. É um papado com dois padrões - um para o papa e outro para o resto da humanidade. O papado de João Paulo II tem sido uma benesse para os traficantes, os corruptos, para a ladroagem internacional [...] mantendo, simultaneamente, uma imagem altamente propagandeada, à laia de estrela rock. Os homens que estão por detrás do «beijoqueiro das pistas de aterragem» têm por função garantir a continuação do negócio de sempre e velar para que os lucros aumentem.» (p. 365 da ed. Dom Quixote).

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Dona Ivone Lara Nilze Carvalho - Acreditar, de Ivone Lara

Muito poucas pessoas conhecem Dona Ivone Lara, uma das maiores compositoras brasileiras, autora de «Sonho Meu» e «Alguém me avisou», melhor conhecidas pelas interpretações de Maria Bethânia, Gal, Caetano e Gil et al.

Carmen Miranda (100 anos do nascimento) II - South American Way

domingo, 8 de fevereiro de 2009

José Afonso - Saudades de Coimbra

Para me redimir das aleivosias que acabei de dizer acerca da balada de Coimbra.

Elis Regina e Tom Jobim - Águas de Março, de Tom Jobim

Coisas que me irritam I

A balada de Coimbra, erradamente chamada de «fado».
É insuportável: as vozes mal impostadas, o poemazito tosco (excepção feita a Manuel Alegre e a José Afonso, bem como aos autores da presença), a postura ridiculamente hierática, um certo e nunca assumido machismo, o derrame, os "portamentos", a própria ideia de Academia de antanho, a tricana, a «Samaritana», o «Hilário». Um horror!
É claro que haverá sempre José Afonso. Ao resto, mesmo aos cantores mais celebrados - a própria Amália cantou a canção de Coimbra - algo em mim é incapaz de aderir.

Avaliação dos professores

As reivindicações dos professores começaram por ser mais do que justas. A divisão da carreira entre professores e professores titulares, em si acertada, naufragou num iníquo primeiro concurso de provimento em que um incrível sistema de pontuação exilou grande parte dos melhores professores num casulo de desmotivação e de sentimento de profunda injustiça. O modelo de avaliação do desempenho - burocrático, inefectivo - deu cabo do resto. O facto de não incidir nas competências científico-didácticas; o peso que começou por ser dado ao abandono e ao insucesso dos alunos; a mera possibilidade de os pais intervirem no processo; o poder-se ser avaliado por docentes de outras áreas disciplinares; o facto de haver docentes a ser avaliados por outros com habilitação académica inferior à sua - tudo isso concorreu para o completo desprestígio deste sistema de avaliação do desempenho docente.
Por outro lado, num país em que a administração central tende a ser hiper-regulamentadora, permitiu-se que as escolas regulamentassem elas próprias em demasia em sede de avaliação do desempenho a tal ponto que a equidade e a justiça podem ser postas em causa.
No entanto, o modelo provisório pode e deve ser aplicado pelas escolas.
Em primeiro lugar, porque a avaliação do desempenho não é um direito, mas um dever.
Em segundo, porque os prejuízos da sua não aplicação são superiores ao da sua aplicação.
Finalmente, porque na actual crise nacional e mundial, os professores têm emprego que, ao contrário do que por vezes se apregoa, está longe de ser mal pago. Quando todos os dias fecham empresas, não querer ser avaliado no desempenho de um emprego que se tem é, no mínimo, ridículo.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

União Nacional


O pior que pode acontecer a Portugal é instalar-se uma atmosfera de «união nacional», de um falso unanimismo em torno de uma suposta necessidade de «salvação nacional». Nada pior do que os apelos que vão surgindo de nos colocarmos «acima da política», «dos partidos» e pensarmos «sobretudo em Portugal». Estas tentativas de solução de momentos de profunda crise nacional nunca deram bom resultado, numa tentativa de diluir artificialmente a conflitualidade própria de uma sociedade democrática. Aquilo de que Portugal precisa é de projectos plurais, contraditórios, por vezes antagónicos e que correspondam uma efectividade pluralidade de vozes e de opções quanto aos caminhos para o nosso futuro colectivo.
Tudo o mais cheira a ranço.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Amália - Estranha Forma de Vida, de Alfredo Marceneiro e Amália Rodrigues

Livros do Brasil



Uma das piores coisas que uma editora pode fazer é abandonar a imagem de marca que a tornou única. Mesmo que habitualmente as achemos toscas, pouco sofisticadas, as capas dos livros da Livros do Brasil tinham um charme retro, demodée - o cartão, as cores por vezes demasiado garridas, as «orelhas»,mais atrás os cadernos ainda por abrir, o tamanho, as ilustrações de grandes nomes da arte portuguesa, aquele aviso "proibida a venda na República Federativa dos Estados Unidos do Brasil" (sic), o tipo, o papel, os autores, as grandes - e as péssimas! - traduções. A colecção «Dois Mundos», a «Livros do Brasil», mesmo a «Autores de Sempre» tinham esse charme. Mesmo as sucessivas modificações gráficas nunca alteraram a fundo a ideia que presidia a essas colecções e ao modo de as editar. A editora renovou totalmente as colecções e deitou tudo a perder. Mas nada disso se compara ao crime perpetrado à velha colecção «Vampiro» ou à «Argonauta», aumentando o tamanho dos livros, descaracterizando-os por completo, "melhorando-os", retirando-lhes a fragilidade que era a marca distintiva da sua "personalidade".


Rita Hayworth, Glen Ford - Gilda, de Charles Vidor (1946), USA, Columbia Pictures

Rita Hayworth - Put The Blame On Mame

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Chico Buarque e Roberto Carlos - O que será (À flor da pele)

Um improvável encontro?

Off-shores

A bem da equidade. Ninguém fala da Zona Franca da Ilha de Santa Maria nos Açores. Pelo menos não tem consagração no estatuto político-administrativo da Região...

Off-shores

Já que tanto se falou do Estatuto Político-Administrativo dos Açores - e estando o Presidente da República cheio de razão, seja quanto à limitação dos seus poderes, seja sobretudo quanto aos da Assembleia da República -, pouco se tem dito acerca da consagração no Estatuto da Madeira da sua Zona Franca, integrada no «Centro Internacional de Negócios» (artigo 146º, com honras de "Capítulo VI" do diploma). Para além de ser bizarro prever tal coisa em sede de uma lei reforçada como é um estatuto político-administrativo de uma região autónoma, sabemos a dificuldade que será alterá-la. O Estatuto da Madeira ainda não se adaptou, por exemplo, às alterações da última revisão constitucional em matéria de lei eleitoral. Sabendo nós que cabe à assembleia legislativa da região autónoma da Madeira «Exercer, por direito próprio e exclusivo, o poder de elaborar, modificar e retirar, projectos ou propostas de alteração do Estatuto Político-Administrativo da Região, bem como emitir parecer sobre a respectiva rejeição ou introdução de alterações pela Assembleia da República...», está-se mesmo a ver quando é que a Zona Franca da Madeira será extinta.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

What happened? (I)

O que é que aconteceu a Gabriela Schaaf?

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Mercedes Sosa - Gracias a La Vida (Violeta Parra)

JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias


«Antigamente, antigamente sim», como diria Agustina. Há muito que deixei de ser leitor assíduo do JL. A partida de muitos colaboradores, a ausência de dossiers significativos - que saudades dos cadernos especiais sobre o Romance Policial, Kafka ou Orwell!- um certo anquilosamento e a falta daquela frescura dos primeiros tempos ou da direcção de António Mega Ferreira, levaram a que a maior parte das vezes não me apetecesse ler o JL. Por vezes um certo tom de "lusofonia" festiva e os encartes do Instituto Camões são insuportáveis. Agora que chegou ao nº 1000, a melhor forma de o comemorar seria a digitalização completa e colocação em linha de toda a colecção. Malgré tout, pelo JL passaram os maiores nomes da cultura de língua portuguesa destes últimos anos. Parabéns|

Maysa - O Barquinho

myZONcard

Agora que a Autoridade da Concorrência, após denúncia de Paulo Branco, suspendeu a campanha promocional myZONcard (oferta de bilhetes), a Lusomundo, pela exibição do dito cartão, oferece dois bilhetes pelo preço de um ou - pasme-se! - "1 bilhete + pipocas (peq.) + bebida (peq.)". Para usufruir da promoção de dois bilhetes pelo preço de um tem de se exibir o bilhete de identidade tanto na bilheteira como na entrada para o cinema. A Lusomundo receia que o espectador portador do cartão vá vender os bilhetes ao espectador não portador de cartão? Mas está tudo doido? E não se pode exterminá-los?

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

John Updike (1932-2007)


Tinha acabado de ler um artigo de John Updike sobre Marte na edição portuguesa de Janeiro da National Geographic quando as televisões anunciaram a sua morte.

domingo, 25 de janeiro de 2009