segunda-feira, 15 de março de 2010

A invejazinha nacional

Última palavra de Os Lusíadas, a inveja portuguesa é a causa eficiente do verdadeiro desporto nacional: a má-língua, a calúnia, o boato e o innuendo. Um dos acontecimentos que fazem o the talk of the town são as ajudas de custo pagas a Inês de Medeiros. Gostava de saber quanto é que isso custa de verdadeiramente significativo ao erário público. Inês de Medeiros mora efectivamente em Paris e não vai à cidade-luz para se passear nos Champs-Élysées. Vai a casa, vai ver os filhos, vai tratar de assuntos. E os senhores Deputados que vivem em Lisboa e recebem ajudas de custo para se deslocaram ao seu círculo eleitoral? Põem lá os «butes»? Não me parece. Inês de Medeiros deverá ser impedida de ser Deputada por residir em Paris? E por residir em Paris deverá ser prejudicada financeiramente?

Nem sequer discuto se Inês de Medeiros é boa Deputada. Desconfio, até, que não seja grande coisa. O que não falta são maus Deputados. Mas reajo à invejazinha nacional que está no fundo destes pronunciamentos. Inês de Medeiros é uma figura importante do panorama cinematográfico europeu. Uma visita ao Internet Movie Database chega para se ter uma ideia.

Ter sucesso no estrangeiro - sucesso verdadeiro, não o sucesso "mítico" daqueles que dizem que estiverem em Nova Iorque a fazer qualquer coisa em que ninguém reparou - é algo interdito, quase um crime para os portugueses que cá ficam. José Saramago tem sofrido dessa inveja. Maria de Medeiros também não pôde - para o medíocre que ninguém conhece em Badajoz - ser Directora do Teatro Nacional D. Maria II. Só pôde fazer cerca de 80 filmes, alguns dos quais com Quentin Tarantino, Philip Kaufman, Bigas Luna, Oliveira e outras pessoas sem nenhuma importância.

N.B.: as 'de Medeiros' são vagamente minhas primas.

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