quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Fernanda Botelho (1926-2007)


"Desviou-se o paralelo um quase nada
e tudo escureceu:
era luz disfarçada em madrugada
a luz que me envolveu.

A geométrica forma dos meus passos
procura um mar redondo.
Levo comigo, dentro dos meus braços,
oculto, todo o mundo.

Sozinha já não vou. Apenas fujo
às negras emboscadas.
Em cada esfera desenho o meu refúgio
- as minhas coordenadas."

As Coordenadas Líricas (1951)

Da Autora, lembro-me de três romances - Calendário Privado, Xerazade e os Outros e Lourenço é Nome de Jogral - (que sempre aproximarei de um certo Abelaira) e da sua longa ausência: entre 71 e 97 nada publicou. Pertencendo ao grupo de escritores definitivamente consagrados aquando da Revolução, só treze anos depois desta volta a publicar. Mas isso já não acompanhei. A sua poesia, escassa mas sempre saudada - especialmente pelo seu companheiro de geração David Mourão-Ferreira (cf. Vinte Poetas Contemporâneos) - é antologiada por Jorge de Sena nas Líricas Portuguesas bem como por Maria Alberta Menéres e E. M. de Melo e Castro (Antologia da Poesia Portuguesa 1940-1977), que aliás transcrevem poemas dispersos (publicados na Távola Redonda (1952) e no Graal-II (1956)) .

A revisitar. Tentar ler os seus romances que nunca li: O Ângulo Raso, A Gata e a Fábula e Terra Sem Música. Os dos anos 80 e 90 talvez não valha a pena.

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