sexta-feira, 25 de junho de 2010

O abjecto antes do abjeccionismo - O Cego de Landim, de Camilo Castelo Branco


"Em 1841, a hospedaria dilecta dos brasileiros de profissão (distingam-se assim dos brasileiros do Brasil) era a do Estanislau na Batalha. Ali havia a sem-ceremónia do chinelo de liga à mesa-redonda; os colarinhos arregaçados deixavam arejar as pescoceiras rorejantes de suor, que se limpavam aos guardanapos; cada qual podia comer o arroz com a faca e o talharim com o garfo; a laranja era descascada à unha, e os caroços das azeitonas podiam ser cuspidos na mesa, bem como as esquirolas do pernil do porco desentaladas a palito das luras dos queixais. E era até de direito comum cada qual caçar de guet-apens a importuna mosca na cara e decapitá-la publicamente. Estava-se ali á vontade, como nos jantares de Peleu e Patroclo, com um grande estridor de mastigação e arrotos."

(das Novelas do Minho, 1876)

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