sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Jornalismo de investigação

Não costumo ler livros de «jornalismo de investigação». Qualquer coisa na transposição do jornal ou da revista para o formato livro desperta em mim um cuidado redobrado. Afinal, a charlatanice é sempre possível, sobretudo num meio em que não há conselhos de redacção, ERC (acho eu!) ou controlo dos pares a intervir. Claro que tudo isto é um disparate: há grandes livros de jornalismo de investigação nos países civilizados, sobretudo anglo-saxónicos, e nunca será demais lembrar esse livro seminal que é In Cold Blood de Truman Capote. Em Portugal há pouco e não é bom. Acabei de ler Em Nome de Deus, de David Yallop (2006) sobre a morte do pobre João Paulo I. As teorias da conspiração nunca me interessaram particularmente e acabam por ser frequentemente ridículas. Neste caso, o livro é convincente, reunindo o Autor matéria factual - não diria probatória, mas enfim - suficiente e, apesar de me ter perdido no emaranhado de relações - P2, Opus Dei, bancos, investimentos, financiamentos, pessoas - a trama acaba por ser convincente. A lição é conhecida: os responsáveis pela morte serão altos dignitários da Cúria Romana, entre os quais o Cardeal Villot, à época Secretário de Estado, Marcinkus, chefe do «Banco do Vaticano», P2 e tutti quanti. Interessante é a crítica feroz a João Paulo II, conhecedor das mudanças que o seu Predecessor pretendia operar e causa eficiente da sua morte, por nada ter feito para apurar a verdade e, pelo contrário, de ter mantido e promovido alguns dos responsáveis pelo assassinato do Papa Luciani. «Woytila nada fez. Temos um papa que censura publicamente os padres da Nicarágua pelo seu envolvimento na política e que, ao mesmo tempo, abençoa a entrega, secreta e ilegal, de grandes somas ao Solidariedade. É um papado com dois padrões - um para o papa e outro para o resto da humanidade. O papado de João Paulo II tem sido uma benesse para os traficantes, os corruptos, para a ladroagem internacional [...] mantendo, simultaneamente, uma imagem altamente propagandeada, à laia de estrela rock. Os homens que estão por detrás do «beijoqueiro das pistas de aterragem» têm por função garantir a continuação do negócio de sempre e velar para que os lucros aumentem.» (p. 365 da ed. Dom Quixote).

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