Muitas vezes na opinião que se publica surge a ideia de que haveria uma bondade intrínseca na transição espanhola em comparação com a revolução portuguesa. Como, aliás, nas independências das antigas colónias e inglesas, francesas ou outras. Uma dia voltarei a este último tema.
Os recentes acontecimentos relacionados com o processo contra Baltazar Garzón e com a Ley da la Memoria Histórica mostram-nos uma Espanha ainda irreconciliada, assente numa tensão e num equilíbrio instável que o tempo acentuará, designadamente a propósito do aprofundamento das autonomias regionais - em direcção a, na melhor das hipóteses, uma confederação ou, na pior, à secessão - e da sucessão da Coroa. A violência do Passado faz-se sentir a todos os níveis e a uma Espanha ultra-moderna tende a impôr-se o espinho de uma memória que vem da República, da Guerra Civil e do franquismo.
A nossa Revolução, por mais críticas que se lhe possam fazer, permitiu um arrumar da casa e não atirou para o futuro coisas por resolver. Os "fascistas" democratizaram-se e, tirando alguns abencerrages, os portugueses podem olhar-se face a face.
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