quarta-feira, 9 de junho de 2010

António Manuel Couto Viana (1923-2010) e os escritores conservadores

Morreu há uns dias aquele que era, provavelmente, o último sobrevivente da geração da Távola Redonda (David Mourão-Ferreira, Fernanda Botelho, Alberto de Lacerda, entre outros). Este poema - tardio - representa todo o programa de vida de Couto Viana:

"O poeta e o mundo

Podem pedir-me, em vão,
Poemas sociais,
Amor de irmão p'ra irmão
E outras coisas mais:

Falo de mim - só falo
Daquilo que conheço.
O resto... calo

E esqueço."

(Uma vez uma voz, 1985)

P.S.: Eduardo Pitta presta-lhe, também hoje, homenagem.

*

Não é, propriamente, o caso de Couto Viana, mas há alguns escritores de tradição conservadora que me interessam (para além, obviamente, de Agustina Bessa-Luís).
O primeiro é Joaquim Paço d'Arcos, de quem tenho lido umas magníficas short stories (Neve sobre o MarO Navio dos Mortos e Outras Novelas e Carnaval e Outros Contos, etc.) e de quem espero ler o ciclo de seis romances de «Crónica da Vida Lisboeta» e a Cela 27. Em miúdo tinha lido as Memórias duma Nota de Banco. O Autor - outrora muito lido e responsável por haver tantas «Anas Paulas» - tinha mau nome, em parte justificado pelo seu apoio à intervenção da Legião Portuguesa na Sociedade Portuguesa de Escritores e à posterior extinção da mesma, consubstanciado num célebre panfleto. Sei que Paço d'Arcos tinha boa relação com escritores da Oposição - possuo um exemplar de Nus e Suplicantes de Urbano Tavares Rodrigues, em que um dos contos lhe é dedicado, dedicatória essa que é retirada em ulteriores reedições. Sei também - e devo-o a uma conferência de Eduardo Lourenço - que o encostar de Paço d'Arcos à extrema-direita do Regime assentou, em grande parte, num equívoco. Aliás, para além do célebre cosmopolitismo do Autor e do português enxuto é, por exemplo, o erotismo da sua escrita e das suas imagens o que mais o faz estranhar nessa tradição conservadora. Um pouco como Pedro Homem de Mello, embora num registo inverso.
Outros casos são Luís Forjaz Trigueiros - excelente contista -, Tomaz de Figueiredo - cujo vernaculismo é, para mim, um obstáculo como o são Aquilino Ribeiro e João de Araújo Correia -, o escritor católico Francisco Costa, bem como a romancista e ensaísta Esther de Lemos, ainda viva.

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