quarta-feira, 7 de julho de 2010

Os sinais dos tempos, I

Dei aulas durante 18 anos e um espectáculo recorrente, digamos que dos últimos 5 anos, era a pressa com que nas férias da Páscoa os meus alunos do 12.º ano iam tirar a carta. Razão? Porque não concebiam ir para a Universidade em transporte público. No meu tempo, na Cidade Universitária encontravam-se estacionados meia dúzia de carros, na melhor das hipóteses, dos senhores professores. Em poucos anos, tudo mudou. Mesmo o alargamento da rede do Metropolitano de Lisboa, a introdução do comboio na ponte 25 de Abril e a melhoria das embarcações da Transtejo, não incentivarem o uso do transporte público por parte dos jovens - que, por definição, não têm rendimentos do trabalho. Das outras regiões não sou competente para falar, mas parece-me ter havido um desinvestimento nas acessibilidades das linhas de Cascais e Sintra, bem como do Oeste.
Uma geração cujos bisavós andavam a pé ou de burro, os avós começaram pelos Mini, Renault 4 e Fiat 127 e os pais pelos Renault 5 e pelos Panda, inunda Lisboa de automóveis (presumo que nos outros pólos universitários se passe o mesmo), gasta o que não tem e o que não deve e concorre para o risco ambiental já elevadíssimo. Mesmo os meus alunos de Almada que ingressavam na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova, no Monte de Caparica, não dispensava o "pópó". Vai ser giro ver esta gente apeada nos anos vindouros.

Diz acertadamennte o Eduardo Pitta: "Num país atrasado como Portugal, a cultura do automóvel subverteu o interesse colectivo. Em 1986, com a entrada na CEE, actual União, centenas de milhares de famílias deram o salto da carroça para o Fiat 127. Não teria mal se, em simultâneo, os sucessivos governos, autarcas de todas as cores e poderes fáticos não tivessem aproveitado o upgrade de motorização para encerrar linhas de caminho de ferro e reduzir drasticamente a rede de carreiras rodoviárias."

Chapeau!

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